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Du Rompa Hammond Trio: música e viagens sonoras

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O som inconfundível e enigmático do órgão Hammond brilha na música instrumental do trio. Conceitual, o novo álbum traz viagens à base de jazz, world music, sonoridades brasileiras, entre outras.

09/12/2024 / 0 Comentários
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Rosa Tattooada: maior banda gaúcha de hard rock faz 35 anos

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O Rosa Tattooada surgiu em 1988 e logo consolidou seu time clássico: Jacques Maciel (guitarra, vocal), Beat Barea (bateria), Paulo Cássio (guitarra) e Eduardo Rod (baixo). Embalado por todo o fuzuê hard rocker oitentista, o quarteto gaúcho rapidamente se tornou sucesso no Rio Grande do Sul. Eles tiveram demo com hit radiofônico, grande projeção, disco lançado por major fonográfica, agenda cheia… O ápice foi abrir os shows do Guns N’ Roses no Brasil, em 1992. Tudo em cerca de quatro anos. Porém, como que do céu ao inferno, despencaram vertiginosamente. Atingiram o fundo do poço em 1995 e então resolveram dissolver a banda. Em 2000, o Rosa Tattooada volta reformado e reformulado, dessa vez como trio. Jacques e Barea contam com o baixista Rodrigo Maciel, irmão do vocalista e guitarrista. Mais adiante incorporaram Vini Tonello, no teclado, e assim avançaram. Vieram discos com punch e qualidade, e novas alterações de layout. O grupo consolidou-se bem. Sua atual encarnação é a mesma desde 2011, com Valdi Dalla Rosa (baixo) e Dalis Trugillo (bateria). Após tantos altos e baixos, no ano em que o Rosa Tattooada celebra 35 anos, as peças parecem devidamente encaixadas. E ninguém melhor para passar essa história a limpo que Jacques Maciel, único presente em todas as formações. Em 2023, você está com 54 anos e é pai pela primeira vez. O que muda?Já venho há alguns anos baixando a poeira do folclore do hard rock, das loucuras e tudo mais. Tenho levado a vida de uma forma mais tranquila. Agora mais ainda. Graças a Deus, nessa retomada pós-pandemia, as coisas estão andando artística e profissionalmente, tanto com meu trampo solo como para o Rosa. O fato de o filho ter vindo depois de todo esse tempo de carreira também ajuda?Deus faz as coisas na hora certa. Ele veio numa hora em que tenho outra cabeça, estou pé-no-chão e mais estruturado financeiramente. Se tivesse pintado quando eu tinha trinta e poucos anos, talvez não fosse tão bom pai quanto tenho me esforçado para ser agora. Você falou de Deus porque é um cara religioso ou foi só forma de falar?Não sigo nenhuma religião, mas acredito em Deus. Acredito que tenha algo além dessa porra toda que estamos vivendo neste planetoide [risos]. Sempre acreditei que deva haver algo por trás disso, não sei se como forma de me confortar. Não estamos aqui até o fim da vida só pelo propósito de estar aqui, na Terra. Então, acredito em Deus, sim. E no que acreditava em 1988, quando montou o Rosa Tattooada?Nas mesmas coisas, cara. Sempre tive esse pensamento, desde moleque. O Rosa foi minha primeira banda. Nossa crença era do folclore do rock, do Kiss, do Mötley Crüe. Quando aparecemos, estava em efervescência o rock farofa, a cena da Sunset Strip, de Los Angeles. Tudo aquilo nos fascinava. Vocês montam o Rosa em 1988 e têm uma ascensão até que meteórica, né?Em 1986, fui trabalhar como roadie para uma banda clássica do Sul, que eram os Cascavelletes. O Rosa nasceu por sugestão do vocal, Flávio Basso, que depois virou o Júpiter Maçã. Ele falou: “Por que vocês não montam uma banda para abrir os shows dos Cascavelletes?”. Essa explosão do Rosa foi graças ao que até hoje é nosso hit mais conhecido, O Inferno Vai Ter Que Esperar. Gravamos esse som em uma demo. O Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós, deu a letra e eu fiz a música. Essa demo simplesmente começou a tocar nas rádios, mesmo antes de termos um disco. Coisa que hoje nem se sonha acontecer. Na época, os caras tocavam porque gostavam da sua música. Era um sucesso espontâneo.É, e não tínhamos pretensão nenhuma. Realmente foi muito rápido. Em 1990, gravamos um disco por um selo local, Rosa Tattooada, produzido pelo Thedy, que o colocou debaixo do braço e levou para mostrar à Sony Music, no Rio. O presidente da gravadora, Marcos Kilzer, curtiu e nos contratou. Só que pediu que regravássemos. Então, em 1991, fomos para o Rio, no estúdio Nas Nuvens, e refizemos o álbum com algumas alterações no repertório. Na realidade, Rosa Tattooada já tinha tocado inteiro nas rádios do Sul. Outro som que também tocou e que é quase tão cultuado quanto O Inferno Vai Ter Que Esperar se chama Tardes de Outono. Como conseguiram abrir para o Guns N’ Roses, em 1992?Quando estávamos regravando o disco, pintou o convite. Eles vieram ao Brasil em sua melhor fase, na turnê do Use Your Illusion. No ápice, né. Aí, teve a história clássica, de que quando o cara veio nos convidar, recusamos. Dessa eu não sabia.Era uma empresa que estava trazendo eles, a DC Set, do Dody Sirena, empresário do Roberto Carlos há muitos anos. A produção do Guns pedia uma banda local de cada país para abrir os shows. A DC enviou o material do Rosa e de mais quatro bandas, Viper, Não Religião, Hay Kay e Inocentes. Um dia, o Dody pintou no Nas Nuvens: “Olha, os caras do Guns escolheram vocês para abrirem os três shows no Brasil”. Não havia aquela cultura de banda nacional abrir show e se dar bem. Hoje há condições de se tocar e não queimar o filme. Na época, não. Quando tinha banda de abertura, era “apedrejada” [risos]. Nesse primeiro momento dissemos que não, porque estávamos lançando um álbum pela Sony e tínhamos receio de fazer uma apresentação sem condições técnicas e assim sermos vaiados. Queimar o filme na largada, como dizemos aqui no Sul. Dois dias depois, ele voltou ao estúdio, pegou uma folha de papel e caneta, e: “Queremos que vocês abram esses shows. Então, escrevam aqui tudo o que precisam para terem segurança”. O que colocamos parecia exigência, mas não é nada demais: equipamentos de qualidade, nosso próprio técnico de P.A. e de monitor e um volume e qualidade decente para o público. No fim, foram três noites incríveis. Saímos aplaudidos de todas elas. É um lance que guardamos com muito carinho. Como foi olhar um público gigantesco de

27/07/2023 / 0 Comentários
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Cipassé Xavante comenta parceria com Sepultura

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Cipassé Xavante é uma importante liderança indígena brasileira. Vive na aldeia Wederã, em Canarana (MT). O cacique foi um dos protagonistas por trás da parceria dos xavantes com o Sepultura que ajudou a transformar Roots num tremendo sucesso mundial. Tive a chance de conversar com Cipassé este mês sobre a parceria, e o papo segue abaixo. O que o senhor achou da experiência com o Sepultura?Você está fazendo entrevista com a pessoa certa. Eu que coordenei essa parceria com o Sepultura, nos anos 1990. A experiência foi muito boa. Teve a mediação de uma jornalista chamada Angela Pappiani, que trabalhava na ONG Núcleo de Cultura Indígena, em São Paulo. Ela entrou em contato comigo, contando que eles eram uma banda brasileira conhecida fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos. Aí, falei: “Então, manda todo o material sobre eles, as músicas, para eu apresentar à aldeia”. Recebi o material e mostrei para a comunidade quem era a banda, que tipo de música faziam. O pessoal gostou da história deles. Disse que catavam uma música diferente, que é o metal. Expliquei a eles o que é o estilo metal. E aí, gostaram. Viram fotos de cada integrante, com tatuagem, cabeludo e tal. Primeiro, foi um choque cultural e depois contei por que usavam tatuagem e tinham cabelão, por que faziam isso. Aí, eles entenderam. A aldeia se sensibilizou porque o Sepultura também sofria preconceito. Apesar de serem brancos, eram brancos diferentes, com pensamentos diferentes, tocavam e cantavam músicas diferentes, e havia preconceito entre os brancos. Não era só o povo indígena. Aí, o pessoal se sensibilizou: “Ah, então, tá! Se for isso, vamos aceitar a parceria com eles. A única coisa que pedimos é que não tragam nada, tipo álcool, droga e tal. Vamos recebê-los aqui com respeito, com honra, para fazermos o trabalho”. A única condição que a aldeia colocou foi essa. Eles aceitaram e vieram para cá. Ficaram três dias, fazendo um trabalho intensivamente. Nós apresentamos dois tipos de música, e a primeira que eles gostaram foi a música de cura, que chamamos de Dasiwaiwere. Fizeram o arranjo, adaptaram, e batizamos de Itsári, que significa ‘raiz’. Aconteceu um trabalho muito bonito. Todos colocaram sua energia e saiu um resultado muito bom. A experiência foi muito boa para ambas as partes. Divulgamos mais a cultura Xavante com uma contribuição para a música brasileira e para o heavy metal – inclusive, esse foi um dos discos mais vendidos e tocados na época. Depois, a banda se desfez, e já é um problema deles, né? Ficamos tristes quando isso aconteceu, mas acho que já vinha tendo muitos problemas internos. Quando o senhor fala de preconceito, teve preconceito da aldeia em relação à banda?Não. Eu quis dizer que eles sofriam preconceito dentro da sociedade em que vivem, porque tinham cabelo comprido, tatuagem pelo corpo e cantavam uma música diferente, que é o metal. E ainda era banda brasileira que se fez fora do Brasil, nos Estados Unidos. Quando ficamos sabendo da história, nos sensibilizamos. Também refletimos sobre nós mesmos, que sofríamos muito preconceito no Brasil como povo indígena. Então, por que não nos unirmos? Por que não aceitar essa parceria como uma forma não só de contribuir na parte musical como quebrar esses tabus e paradigmas? Isso que falou mais alto quando apresentei a ideia em nossa reunião de conselheiros anciões. É nesse sentido que estou falando, em relação ao preconceito que existia contra eles e em relação a nós. Por isso que Roots deu resultado muito bom. Foi um trabalho verdadeiro, um trabalho de coração. No dia em que a banda chegou na aldeia, como foi quando viram eles de perto pela primeira vez?Teve um impacto muito grande para toda a comunidade – crianças, jovens, mulheres, homens, adultos e anciões. Pela aparência deles: cabeludos, cheios de tatuagem, tudo isso [risos]. Foi um impacto grande para ambas as partes, né? Para eles, também, porque pisavam pela primeira vez na vida em uma aldeia indígena. Agora, apesar de o som deles ser metal, bem pesadão, trabalharam uma sonoridade mais próxima da comunidade do que da deles.Eles trouxeram o que puderam. Fretaram dois aviões teco-teco, um só para trazer a turma deles e outro para o equipamento. Então, trouxeram um equipamento mais simples. Agora, de estilo deles, não mudou nada. Pedimos que tocassem uma música que fizeram para os parentes Kaiowá, do Mato Grosso. A própria música se chama Kaiowas. E eles tocaram bem pesado. Depois, fizeram vários arranjos da Itsári. E nossa música, é importante ressaltar também, nós cantamos igual a eles: forte, meio assim para arrebentar qualquer som ou qualquer microfone. Você vê isso no Roots. Itsári é uma música que casou bem. Eles cantam fortemente e nós, também. Então, eu diria que foi um casamento bem feito da voz deles com a voz da comunidade. Quando vocês estavam gravando, era uma situação. A música pronta, no disco, é outra. O que acharam quando ouviram o disco?É, para gravar qualquer música, tem o processo: as pessoas vão ao estúdio, fazem um arranjo, repetem várias vezes até equilibrar os sons. Nós gravamos em um estúdio, vamos dizer assim, a céu aberto. No pátio, cheio de barulho do vento, dos pássaros, da natureza. Todo mundo ajudou para sair um som legal. Participaram os homens adultos, jovens e crianças. Quando ouvimos o CD foi uma alegria. Muita alegria de um trabalho em que todo mundo se dedicou e o resultado foi muito positivo. Ficamos felizes por termos contribuído para o heavy metal. Uma contribuição dos xavantes para o mundo e a música mundial. Foi isso o que pensamos depois de ouvir o disco. Ficamos contentes pela contribuição dos xavantes para quebrar tabus e paradigmas com esse trabalho em parceria com o Sepultura. Muito mais que uma alegria, foi uma grande honra te entrevistar. Obrigado pelo seu tempo!Ô, Henrique, a gente que agradece pela matéria sobre a parceria que houve nos anos 1990 entre o Sepultura e a etnia Xavante. Temos consciência de que contribuímos muito, divulgando nossa cultura xavante e também a cultura indígena. A banda também

09/07/2023 / 0 Comentários
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Fla Mingo: “Foi pela arte que consegui me libertar”

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Esse álbum é espetacular, em todos os sentidos. Tem um repertório criativo, inspirado, que envolve. São sete faixas que passeiam por sonoridades variadas do rock. Esquina é visual, performático, exatamente como a persona dessa figuraça chamada Fla Mingo. Cantor e compositor paraibano, Fla Mingo é um genuíno artista. Com as cores e a garra de quem respira sua paixão e sem a vaidade chata de rede social. Lançado pela emblemática Baratos Afins, o trabalho é resultado de seu entrosamento afiado com a banda – Pedro Lauletta (bateria, backing vocais), Pedro Zanchetta (guitarra solo), Alexandre Lopes (guitarra) e Rafael Plaza (baixo). Também têm sua contribuição no resultado a designer Dayane Bonfim, a fotógrafa Natalia Guissoni e o técnico de som Caio Zé, que ajudou a costurar tudo durante a fase mais crítica da pandemia. Esquina soa plural. Nada como o nascer de um projeto em que há muita paixão embutida, certo?Exatamente! A ideia era lançar antes da pandemia. Vínhamos preparando as músicas desde 2017. Durante a gravação das vozes, aconteceu a covid-19. Tudo parou, a vida parou, o mundo parou. Tivemos que deixar o material no congelador. Aí, pela internet, começamos a mixar o material, sempre orientando pelo Caio Zé. Meu último lançamento, eu ainda estava em João Pessoa, saiu em 2008. Esquina tem releituras, músicas mais antigas, mas é tudo com roupagem nova. E tem duas inéditas, da nova safra – Homem do Espaço e Pensar é Perigoso. Fizemos com muito carinho, detalhado. Realmente, é muita paixão envolvida. Algo que amamos fazer. Amamos o palco, mas produzir também é muito gostoso. Estar dentro do estúdio, pegando nossos ingredientes e fazendo aquela receita maravilhosa que resultou nesse trabalho, que está sendo muito bem recebido. Parte de nossas vidas está nesse disco. Você fala para alguém, especificamente?Não há um público específico. Nosso público é exatamente o que se faz naquele momento. Em minhas músicas, há referências de bolero, Jovem Guarda – que eu amo –, das cantoras de rádio. Nosso público é muito diversificado. As pessoas vão aos nossos shows, se identificam e, quando você olha, estão dançando, curtindo, acenando pra gente, batendo palmas. Isso que é legal! A diversidade existe no nosso trabalho, na nossa arte. Não há fronteiras. Gostou do som? Venha dançar com a gente, curtir nosso som, e vamos fazer desse momento único. Faça do seu momento único quando estiver ouvindo, se transporte. Dê-se ao luxo de transcender. É isso que é a Fla Mingo! Você se considera uma pessoa resiliente?Me considero, sim. E acho que, mais do que nunca, hoje em dia temos que ser. A vida não é feita só de beleza. É feita de atropelos, quedas, pedras no caminho, e o mais legal durante essa jornada é se superar. Não se sentir coitadinho. É levantar a cabeça e seguir em frente. Você está aqui, neste mundo, então, tem que fazer algo. E é exatamente durante essa jornada que a vida merece ser vivida, que temos de dar a cara a tapas para sermos realmente seres humanos. E procurar nossos ideais. Gostei das letras. Descontrole é um falso aviso de que o disco possa ser deprê, mas pega outra direção.Eu tenho essa coisa de soar um pouco deprê. Mas, não. A vida é feita disso, entendeu? De amores encontrados, amores não encontrados, portas que se abrem, portas que se fecham, portas que nunca abrem e você tem que abrir, procurar outro caminho através de uma janela. Você sempre encontra seu caminho e aquele raiozinho de sol que precisa para se reerguer e seguir em frente. Descontrole fala um pouco disso. Homem do Espaço é uma viagem divertida.É minha homenagem ao David Bowie. Tem um pouco dessa coisa de que você transcende. É como se eu tivesse tido uma visita do Bowie no meu quarto em João Pessoa. Ele chega e batemos um papo sobre livros, literatura, arte. Pega meus discos e me ensina: “É assim que se requebra”. A Super-Tra, o que quer dizer esse título?“Super-Tra” significa super-travesti. Ou pode ser super-trans, que está em alta hoje em dia – não por moda, mas por uma galera, lá atrás, vir ralando bastante por direitos – independentemente de sexo, ideologia, cor. São pessoas lutando por seus direitos. Tento falar disso de maneira suave nessa música. Quero dizer que não é algo que você tenha que manter escondido, sabe? Quebrar tabus, quebrar paradigmas. Chega, somos todos iguais! E é isso o que também levamos como lema para a banda. Meu visual, minha postura como artista, o que escrevo, meu respeito para com o próximo. Isso já é levantar uma bandeira. “Super-tra” é uma expressão que eu usava em João Pessoa com meus amigos gays. Quando nos encontrávamos, principalmente na loja de discos em que eu trabalhava, fazíamos uma brincadeirinha, em 2004, 2005. Temos que respeitar o gênero de cada pessoa, o que ela quer ser, o que escolher ser. É isso que temos que respeitar. Então, A Super-Tra é super-travesti, essa figura emblemática que representa toda uma geração. E a luta continua. E Pensar é Perigoso, uma bela faixa.De cunho político e social, tem referências a 1984, de George Orwell, e O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon – amo muito esse livro. E trata de causas que estão super em voga, também: ecologia e Amazônia. O que representa se expressar pela arte?A arte representa tudo para mim. É meu alimento da alma, do corpo, do coração, da mente. Representa minha vida. Foi pela arte que consegui me libertar. A arte liberta, né? Parece clichê, mas não é. A arte realmente liberta. Se não fosse a arte, provavelmente, não estaria vivo. Foi com a música que consegui colocar para fora todos os meus fantasmas, sabe? Tudo que estava engasgado, que não conseguia falar, que queria expressar e não podia, muitas vezes, por ser reprimido até mesmo pela sociedade. Sou eternamente grato à arte por ter me salvado e por continuar me salvando. Por fazer de mim um meio de comunicação para outras pessoas de maneira consciente. A arte é… putz, é o ar que eu respiro! Quanta honra sair pela Baratos Afins, não?Nossa, maravilha ter

14/11/2022 / 0 Comentários
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Cachorro Grande se reúne hoje e só, garante Marcelo Gross

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Em novembro do ano passado, um ex-roadie da Cachorro Grande entrou em contato com Marcelo Gross e Beto Bruno. Era o Marcio Sujeira, com um convite: que a banda voltasse a se reunir especialmente para celebrar o aniversário de Porto Alegre. Dali em diante se desenhou o show que ocorrerá no próximo dia 26, no Auditório Araújo Vianna. Os caras não tocam juntos desde 2019. Para os órfãos do quinteto e do bom rock and roll deles, a formação será a clássica: Beto (vocal), Gross (guitarra, vocal), Gabriel Azambuja (bateria), Pedro Pelotas (piano, teclado) e Rodolfo Krieger (baixo). Se a data será única ou haverá outras, só os próximos dias dirão. Por ora, vamos ver o que Gross contou sobre o projeto. OK, aniversário de Porto Alegre. Ótimo! Mas, vamos lá, por que a Cachorro Grande concordou em se reunir?Depois desse tempo separados, da pandemia, sentimos vontade de resgatar aquela velha de energia que tínhamos. A banda tem uma química que só acontece quando estamos juntos. Então, quando pintou esse convite da Opinião Produtora, achamos que era a hora certa. Para as pessoas que gostam da banda, e para nós, será um momento especial. Esse, acho que foi o motivo principal. Também vai ter bastante gente que nunca assistiu a Cachorro Grande e que terá a oportunidade de nos ver tocando ao vivo uma vez. O quanto o atual momento de suas carreiras solo pesou na hora de topar reunir a Cachorro Grande?Como é só um show, acabei nem pensando muito a respeito. Lancei um disco no ano passado [Tempo Louco], estou fazendo shows direto. Então, acho que fazer só uma apresentação com a banda não vai ajudar nem atrapalhar. Não faz muita diferença. O que pretendem incluir no repertório pra deixar o público surpreso?Vamos tocar canções que são os maiores sucessos da banda, os clássicos, claro, e talvez tenha uma ou outra coisa que não tocávamos mais, como Vai T.Q. Dá, que tem um improviso no meio, ou a música que abre o segundo disco, As Coisas Que Eu Quero Lhe Falar. Não vai ter tantas surpresas, porque o repertório é meio que óbvio. Ele meio que se fez sozinho [risos]. E não cogitam incluir uma inédita, seja composta em 2022, seja alguma que nunca gravaram? Poderia ser o single da reunião…Como será só um show, não cogitamos. E também, estou envolvido com minha carreira solo, preparando mais um disco, mais um single. O Beto também imagino que esteja nessa função. Não falamos sobre isso. Estamos preocupados em fazer esse show dar certo e ser bacana. Apesar de cada um estar cuidando da própria carreira, não dá a expectativa de que a banda possa retomar a estrada de alguma maneira?Retomar a carreira, não – até dadas as condições para shows no Brasil hoje em dia. A coisa não é mais como na década passada ou na retrasada. Mas nada impede de, em algum momento, nos reunirmos novamente para uma ou outra apresentação. Isso, não descartamos. Porém, retomar a Cachorro Grande é algo que provavelmente não aconteça, também pelo fato de já termos feito bastante coisa juntos durante 20 anos, pelo fato de ainda ser recente o fim da banda, e por estarmos envolvidos com nossas carreiras solo. Depois desse tempo divulgando o show de Porto Alegre, não teve nenhuma proposta para shows em outras cidades, tipo São Paulo?Ah, sim! Tivemos algumas propostas. Estamos estudando. Vamos ver como será Porto Alegre e depois pensamos. Mas a ideia é que seja apenas esse show mesmo. Foto: Divulgação/Arquivo Marcelo Gross

26/03/2022 / 0 Comentários
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Gentle Savage: doces e perigosos, gentis e selvagens

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O Gentle Savage é uma novidade animadora vinda da Finlândia. Faz um rock robusto, direto, com passagens fotogênicas. Ao mesmo tempo, dá para perceber influências longe do que seria a praia óbvia deles. O quinteto é formado por Jay B (bateria), Vance Bead (baixo), Tim O’Shore (guitarra), Theo van Boom (teclado) e Tornado Bearstone (vocal e guitarra). Midnight Waylay, seu disco de estreia, veio com tudo. Saiu em 2021 e recentemente ganhou a versão streaming. Confira o clipe de uma das faixas, Personal Hades, ao final da entrevista. O papo que bati foi com Tornado, um cara experiente, gente boa e que mostrou qualidade como produtor (a álbum ficou sob seus cuidados). Ele é o boa-pinta de chapéu aí, da foto. Midnight Waylay soa como uma trilha sonora para os dois últimos anos no mundo em que vivemos. Você considera Gentle Savage uma banda otimista ou realista?Acho o Gentle Savage, por um lado, uma banda otimista e por outro, uma banda bem realista. Isso significa que aceitamos a vida em todas as suas cores. Estamos próximos do ideal ingênuo de paz e amor, mas também do lado em que as pessoas vivem na miséria, lutando para sobreviver dia a dia. Se tiver que optar por somente uma definição, essa seria a de realista. Quanto Hades, tratado na música Personal Hades, e a pandemia têm em comum?Hades poderia ser visto como uma metáfora para a pandemia, já que é o submundo, e o Rei de Hades, é o Deus dos Mortos. Em Personal Hades, Hades se refere ao estado de espírito que temos quando parece não haver mais saída em uma determinada situação e só há trevas por todos os lados. O álbum seria diferente se vocês tivessem composto as músicas agora, depois dos ataques da Rússia e toda a guerra de merda que eles estão causando na Ucrânia?Acho que não seria muito diferente. Provavelmente, uma música sobre guerra seria incluída no repertório. Na verdade, há uma música assim já composta. Vamos ver se entra no próximo álbum… Faixas como Personal Hades, Livin’ It Up e Carry the Fire mostram a pluralidade de Midnight Waylay. Você consegue visualizar uma identidade da banda?Ah, caramba, isso é complicado! Nossas músicas são bastante variadas. Somos dinâmicos e orgânicos, doces e perigosos, gentis e selvagens. Você fez um ótimo trabalho com a produção. O resultado me lembra produtores como Mikael Nord Andersson e Andy Sneap. Qual foi a sua ideia para o som do álbum?Obrigado! A ideia foi, antes de tudo, aproveitar ao máximo os instrumentos do estúdio para que soassem reais e vivos. Sem muito processamento, no início. Depois de gravarmos os vocais, cada música ficou com uma característica própria. Então, demos ao nosso engenheiro de mixagem, Jesse Vainio, umas orientações sobre a paisagem sonora. Falávamos: “Essa faixa precisa de bastante ‘perigo’” ou “essa precisa ser clara como o céu até a parte B”, e assim por diante. Jesse tem opiniões de artista. Não é só o “cara que mixa” as músicas. Raramente conversávamos sobre frequências, delays ou outras coisas de estúdio. Durante o processo de mixagem, ele foi como um sexto membro da banda. Rolou bem fácil, na verdade. Entendemos as ideias um do outro perfeitamente. Geralmente fazíamos de duas a três rodadas de audição para cada faixa, antes da mixagem final e da masterização. Por que ouço algo do pop rock dos anos 1980 em algumas músicas do Gentle Savage?Bem, eu escutava todos os tipos de música enquanto ia construindo meu DNA musical. Então, acho que tem a ver com essa quantidade absorvida de uma grande variedade de estilos. Isso fez as músicas saírem do jeito que saíram. Não consigo ver outra razão. Você já encontrou alguém que tenha se surpreendido pelo fato de o Gentle Savage não ser uma banda de metal gótico ou de metal sinfônico?[Risos] Boa pergunta! Encontrei: você! Bem, se quiséssemos ter sucesso muito rápido, definitivamente, deveríamos ter ido na direção do gótico ou metal sinfônico. Mas não é a nossa. Somos uma banda de rock fazendo o que queremos fazer, e isso significa estarmos em algum ponto entre o rock, o hard rock e o heavy rock – talvez até com um pouco de metal. Vi em sua página do Facebook o curioso “aquecimento vocal estilo finlandês”. Acho que você teria problemas vocais no Brasil, já que o clima aqui é exatamente o oposto da Finlândia.[gargalha] Outra boa pergunta! Hum… Na verdade, meus amigos brasileiros da ForMusic prometeram alugar um ônibus de turnê que tenha uma banheira de gelo para mim. Então, não terei problema. Foto: Divulgação

18/03/2022 / 0 Comentários
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O tesouro esquecido de Rick Ferreira

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Entre um valioso souvenir para os fãs mais hardcore e uma ilha inexplorada por muita gente, Porta das Maravilhas permanece conservado. O único disco solo completo de Rick Ferreira guarda preciosidades que não se abalaram com o tempo. Nos permite até uma metáfora com seu título, já que o repertório está repleto de belas melodias, solos inspirados, poesia e uma sonoridade ímpar. Só maravilhas! A história do álbum começou em 1975, quando a música Retalhos e Remendos entrou na trilha sonora da novela Cuca Legal (TV Globo). Aproveitando a visibilidade, a gravadora Philips/Phonogram apostou num compacto com essa mesma canção e Meu Filho, Meu Filho, compostas por Rick junto com Paulo Coelho. Àquela altura, o guitarrista carioca já era um companheiro firme de Raul Seixas nos trabalhos em estúdio. Isso somado ao hit moderado de Retalhos e Remendos jogou uma faísca de ascensão no ar. Porém, a coisa logo esfriou, e a gravadora perdeu a empolgação. Ali começava o difícil percurso do que viria a ser o disco de Rick Ferreira. O material saiu depois de tensas conversas. Esse ambiente minou decisivamente as projeções para Porta das Maravilhas. Sem fôlego suficiente, o registro não durou mais que sua tímida campanha de divulgação. Uma pena, já que se trata de uma obra realmente boa. Inclui uma releitura de Cachorro Urubu que deixou Raul Seixas completamente boquiaberto, além de uma canção de Belchior. Há, ainda, as participações de gente de peso: Túlio Mourão, Chiquinho do Acordeon, Liminha, Grupo Karma, Antonio Quintela e Solange. Além destes, as gravações contaram com dois caras afiados: Áureo de Souza (bateria/percussão) e Chico Julien (baixo). Enfim, dá para se considerar um tesouro perdido da música brasileira, produzido e mixado pelo competente Sergio de Carvalho. Quem fala a respeito é o próprio pai da coisa, Rick Ferreira. Mais que um hit moderado, Retalhos e Remendos foi a chave para que sua carreira como um todo tomasse o rumo que tomou, não?Foi um achado na minha vida! Tem muito sentimento. Emociona não só pela musicalidade, mas pela letra. Havia feito com o Paulo Martinelli, um amigo. Conheci o Raul por meio dessa música. No início de 1974, o Sergio de Carvalho mostrou Retalhos e Remendos ao Raul, que falou: “Esse é o som que estou procurando! Leva esse cara lá em casa. A partir de hoje, quero ele na minha vida!”. Então, foi uma música que mudou não só a minha vida, como, acredito, a do Raul também, né? Quando o conheci também conheci o Paulo Coelho. E rolou uma afinidade bem forte com ele. Começamos a conviver e tal. Aí, teve aquele desentendimento entre os dois, por volta de 1975. Quando o Paulo viu que Retalhos e Remendos iria para a novela, colou em mim. Sei lá, talvez estivesse na esperança de que eu me tornasse um novo Raul [risos]. Pode ser que tenha sido isso o que passou por sua cabeça… Eu sei que o Paulo Coelho passou a compor comigo. Pegou essa música e falou: “Pô, Rick, deixa eu dar uma mexida nessa letra. Está muito poética. A letra é ótima, mas vou deixá-la um pouco mais comercial”. Acabou entrando na parceria – o que achei bom, porque o Paulo estava estourado com Gita. Eu ser lançado com uma música em novela, por uma gravadora grande e uma parceria com o Paulo, porra, seria um grande feito. E foi o que aconteceu! Em que momento surge Porta das Maravilhas?O Sérgio de Carvalho mostrou minhas gravações ao Raul Seixas, que me chamou para gravar com ele. Depois, o Guto Graça Mello tomou conhecimento dessas músicas, que já estavam há dois anos na mão do Sérgio. Um dia, o Guto, indo para uma reunião com o Roberto Menescal [diretor artístico da Philips] – eles estavam montando a trilha sonora da novela Cuca Legal –, ouviu essa música e falou que a queria para o tema da atriz Françoise Forton. Acabei sendo contratado pela Philips, lancei um compacto simples, com Retalhos e Remendos, que foi para a novela, e Meu Filho, Meu Filho. O Paulo Coelho fez estas músicas comigo. Surgiu a possibilidade de um LP, mas aí o tempo foi passando, passando, e comecei a não ser mais interessante como artista para a companhia. Porém, quis fazer o disco de qualquer jeito! O Menescal fez de tudo para que eu não gravasse o disco. Tivemos até uns atritos bem chatos. Acabou que impus o que estava no contrato, e saiu o disco. Porta das Maravilhas surgiu dessa forma. Fiz alguma divulgação em rádio e televisão, mais até pra cumprir o protocolo, porque o Menescal, como diretor artístico, não tinha mais interesse em qualquer tipo de investimento na minha carreira como artista. O disco não teve nenhuma repercussão forte na época. Hoje virou uma relíquia, peça colecionador. O que você já tinha de música e o que compôs para o álbum?Tinha algumas composições sem letra. Eu andava muito com o Junior Mendes, do grupo Karma. Compusemos duas músicas juntos, Solitário, que abre o disco, e Carro de Boi. Sempre tive vontade de gravar Cachorro Urubu, do Raul Seixas, mas num arranjo diferente. Também estava envolvido com o Belchior, que me falou: “Pô, Rick, tenho uma balada tão legal que você podia gravar em seu disco…”. Era Todo Sujo de Batom. Ouvi e vi que dava pra fazer um arranjo meio de balada, meio rock pop. Muitas das canções, eu já tinha, e fui atrás de parceiros. Sua versão para Cachorro Urubu deixou o Raul Seixas de cabelo de pé?Sempre adorei Cachorro Urubu. Pra mim, as duas melhores do Krig-Ha são Cachorro Urubu e Ouro de Tolo – mais que Metamorfose Ambulante, Al Capone. Em 1973, quando conheci a música, ainda não tocava pedal steel guitar, mas já tinha vontade de ter uma. Encomendei o instrumento logo que me encontrei o Raul. Ele disse: “Já sei até em que música a gente vai usar: S.O.S.”. Isso foi no primeiro dia em que o conheci, na casa dele. Engraçado porque, na primeira vez que escutei Cachorro Urubu – acredite se quiser –, me veio à cabeça o arranjo que está no meu disco. Eu tinha usado pedal steel em S.O.S., mas algo simples. Quando o Raul ouviu o arranjo de Cachorro Urubu, pirou! Falou: “Cara, esse é o arranjo

04/03/2021 / 0 Comentários
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Julico: “A música tem o poder de conversar com você”

ENTREVISTAS

Nem sempre a rotina de uma banda permite que seus integrantes consigam se dedicar a trabalhos paralelos. Porém, a pandemia, que praticamente paralisou o mundo, acabou criando possibilidades nesse sentido. Julio Andrade, guitarrista e vocalista do Baggios, viu nisso a deixa pra preparar seu primeiro disco solo. Previsto para sair em outubro, Ikê Maré já teve dois singles divulgados: Nuvens Negras e, o mais recente, Eu São/Curtis Says. Por essas amostras, dá para arriscar com certa dose de segurança que o debute solo desse competente músico sergipano, aqui batizado de Julico, despontará entre os destaques de 2020. O que te levou a gravar um disco solo?A vontade de começar algo do zero, de diminuir cobranças em relação à qualidade, repercussão e a uma linha de som já usada na Baggios. Fugir um pouco da rotina. E também por ter músicas que não cabem na banda. Muitas vezes, rola de compor coisas que não vejo tão dentro do conceito da banda. Por mais que seja superplural, há uma essência na Baggios. Fiquei pelo menos dois anos matutando se teria tempo para esse projeto. Calhou que o mundo todo parou, diminuímos o ritmo de trabalho e achei espaço para realizar esse desejo. Exploro um lado meu mais da música brasileira dos anos 1970, dentro do universo da música negra (soul, funk, samba-rock). Tudo o que remete a esse tipo de som está em Ikê Maré. É um trampo mais segmentado. Qual é o Julico que escutamos no álbum, tanto o artista quanto o homem?O artista e o cidadão são as mesmas pessoas. Como artista, tenho uma exigência, uma direção a seguir. Quando vejo a necessidade de escrever um álbum é porque há uma história que quero contar. Há um conceito por trás de cada letra. O álbum todo tem uma conexão. Em Ikê Maré, o fio condutor é o tempo, suas virtudes, seus ensinamentos. Queria simbolizá-lo por uma entidade nova que não se comprometesse com nenhum segmento religioso – por mais que tenha um pé no orubá. É um disco que trata muito da natureza, mas dos rios principalmente. Nas 12 músicas do álbum você encontrará bastante referência às águas e a esse ambiente das marés, do mangue. Algo com que cresci convivendo. Também é um trabalho que vê a necessidade de falar por uma veia mais sociopolítica. Nuvens Negras foi superdirecionada nesse caminho: é um grito de revolta em relação às queimadas e ao destrato do atual governo quanto à preservação da Mata Atlântica. O repertório tem uma textura bem crua e cativante.Gravei 90% do disco em minha casa, com tempo suficiente para experimentações. Depois de quase 20 anos me relacionando com a música de uma maneira bem séria, profissional, quis essa leveza. Então, tem esse ar, essa vibe mais crua, sem aquela megaprodução. Em fevereiro, gravei a bateria na beira de um rio, no município em que nasci, São Cristóvão. Foi muito simbólico para mim. Um amigo ia fazer um trabalho e disse que poderia gravar. Foi foda! Voltei para casa com a bateria e alguns baixos registrados, e mandei ver só nas vozes, violão e guitarras. Ikê Maré tem bastante guitarra, mas não de forma protagonista, como é na Baggios. Aparece mais em texturas e bases. Em algumas músicas até aparecem uns riffs, que é minha essência do blues e do rock. A melodia sai mais fácil quando se mexe em assuntos delicados?Percebo que quando estou mais sensível, buscando fazer algo mais melodioso, tendem a sair coisas mais bonitas. Quando se atravessa uma situação delicada, você também está bem sensível, e consegue extrair algo que normalmente não conseguiria. Porém, Ikê Maré tem momentos mais solares. Então, dá para tirar coisas bonitas de um momento difícil, mas também dá para fazer músicas lindas estando em um clima de alegria, de satisfação. Isso já rolou diversas vezes. Foto: Victor Balde

04/09/2020 / 0 Comentários
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Clássico ao vivo do Viper: “Tocar no Japão era um sonho”

ENTREVISTAS

O Viper estava a milhão e no auge. A banda paulista, um dos pilares do metal brasileiro, havia reconstruído sua imagem depois de Andre Matos ter se mandado para o Angra. Pit Passarell (vocal, baixo), Yves Passarell (guitarra), Felipe Machado (guitarra) e Renato Graccia (bateria) deram um corpo robusto à química que se formou nos primórdios dos anos 1990. Ainda que os conservadores xiitões torçam o nariz para Evolution (1992), marco zero da então nova formação, o álbum tem qualidade e fibra. Além da faixa-título, sagrou Rebel Maniac, um hino da biografia do rock pesado no país.  Acontece que explorar esse registro rende outras passagens de alto nível, como The Shelter, Wasted e The Spreading Soul. Ok, eles meteram a mão no vespeiro ao reler We Will Rock You, do Queen, mas dane-se! Não tira o brilho do material. Brilho esse que os colocou pelo mundo, rodando o Velho Continente e indo à Terra do Sol Nascente. Nenhuma banda de metal brasileira havia tocado no Japão, nem mesmo o já consagrado Sepultura. O ineditismo rendeu Live – Maniacs in Japan, que saiu em 1993. O disco ao vivo do Viper tornou-se um clássico, e ganhou reedição com bônus em 2020, pelo selo Wikimetal. Sobre este pacotão, conversamos com o guitarrista Felipe Machado. Maniacs in Japan retrata o ápice do Viper. Em que aspectos a banda cresceu após a saída do Andre Matos?A banda teve que mudar. Tínhamos um estilo que vinha do Theatre of Fate, muito acostumado ao vocal do Andre. Nós praticamente nos reinventamos. Como o Pit já era vocalista antes de o Andre começar a cantar, e estava acostumado a compor, optamos por mantê-lo como vocalista. Acho que crescemos porque ficamos mais unidos, mais coesos. Nessa época, também perdemos o baterista. O Guilherme Martin saiu, e entrou o Renato Graccia. Então, eu, o Pit e o Yves ficamos mais unidos. Musicalmente, crescemos em termos de energia, de atitude. Éramos bem novos, e ganhamos uma personalidade e uma atitude maior com a saída do Andre. Fomos obrigados a bancar nosso som. To Live Again e Living for the Night funcionaram tão bem com o Pit no vocal que até parecem da formação dos anos 1990. Foi complicado escolher músicas dos dois primeiros álbuns?As duas são do Pit. O repertório do Soldiers of Sunrise e do Theatre of Fate tem diversas músicas compostas pelo Pit. Acabaram soando bem. Ele as adaptou um pouco para seu estilo, e descobriu um jeito de cantar, também – até por ser o compositor. Então, saiu natural criar novos arranjos. Vocês optaram por mudar a sonoridade do Viper por causa do tipo de metal que o Andre foi fazer com o Angra?Não! Na verdade, foi o Andre que levou para o Angra o estilo do Viper. Mudamos porque não tínhamos mais um vocalista melódico e porque estávamos ouvindo outras coisas, outras influências. Também para nos adaptarmos ao alcance vocal do Pit. E queríamos fazer um som diferente. A cada disco, o Viper sempre mudou. Então, nesse sentido, o Andre que quis manter o som do Viper e transferiu para o Angra. O disco tem um quê de pioneirismo, já que marca a inédita ida de uma banda brasileira de metal ao Japão. Que tipo de experiências trouxeram?O show, claro, foi o mais importante, em termos práticos, de conteúdo. Mas foi muito legal, sensacional! Tocar no Japão era um sonho nosso de criança. Ainda éramos uma banda nova: eu estava com 21 anos, o Yves com 22 e o Pit, 23. O Renato, acho, tinha uns 20 anos. A experiência foi conhecer um país muito diferente. Hoje, apesar de o Japão continuar sendo um país muito diferente, o mundo está globalizado. Naquela época, era realmente uma coisa distante da nossa realidade. Com certeza, fez uma enorme diferença o show por lá. O público era bem diferente. Ganhamos bastante experiência na turnê pela Europa – fizemos nossa segunda turnê pela Europa, e de lá seguimos para o Japão. Foi maravilhoso! O público japonês é conhecido pelo fanatismo e consumismo. Que tipo de passagem inusitada tiverem?Ah, muitas! Só o fato de ter fãs nos esperando no aeroporto e depois no hotel, com faixas, foi algo interessante. Sabíamos que o Viper era uma banda conhecida no Japão – já estávamos nas paradas de sucesso e tal. Mas ver isso na prática foi bem diferente do que ouvir falar. E o pessoal realmente conhecia as músicas. Achávamos engraçado, porque eles eram bem respeitosos. Enquanto no Brasil o público já chega, vai abraçando, agita no show, naquele país é mais contido. Só falam com você quando você fala com eles. Mesmo na apresentação, agitavam bastante, cantavam e tal, mas quando acabavam as músicas, esperavam para ver o que iríamos falar. Havia um respeito grande. Achamos isso bastante diferente em relação à Europa e ao Brasil. Maniacs in Japan volta com quatro bônus do mesmo show, certo? A qualidade de áudio deles está bem diferente, inferior, em relação ao disco.Sim, são do mesmo show. A qualidade está inferior, realmente! Para o disco, pegamos a gravação do rolo e mixamos no Brasil. Fizemos uma produção mais cuidadosa do repertório que escolhemos para o CD e o LP. Na época, ainda não existia o digital, então, tínhamos um limite imposto pela parte física do disco. Não tínhamos essa mentalidade de extras nem nada. Os bônus, até chamamos de Bootleg Version, porque são versões bem cruas. A qualidade está bem pior que a do álbum porque não foram mixados. É uma gravação bruta, que veio da mesa de som. Porém, achamos importante colocar no relançamento, primeiro porque era um material inédito e segundo, porque é muito interessante. Você vê, por exemplo, que na introdução de The Spreading Soul o Pit canta o início de Moonlight. Não fazíamos isso em tantos shows, mas fizemos nesse do Japão. Mesmo Prelude to Oblivion, acho que não tinha no disco normal e incluímos. Então, houve uma vontade de manter esse registro histórico. Por isso acrescentamos os bônus. O Viper completou 35 anos com uma carreira irregular, especialmente a partir deste milênio.Não considero uma carreira irregular, não! Considero bastante regular, na qualidade dos discos. Todos os álbuns

01/09/2020 / 0 Comentários
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Tony Parsons: “Ninguém liga para Ed Sheeran ou Taylor Swift”

ENTREVISTAS

Tony Parsons é o tipo de figura que todo mundo que adora música e cultura pop deveria conhecer. Também é uma boa referência a qualquer jornalista musical. Seus textos têm sabor e um jeito visceral de ilustrar os assuntos. Dá pra dizer que esse jornalista e escritor britânico de 66 anos de idade é um privilegiado. Iniciou a carreira no emblemático semanário New Musical Express (NME), quando o punk eclodia pelo mundo. Entrevistou e cobriu um sem-número de artistas, incluindo medalhões que vão do rock à música pop. De meados dos anos 1970 sua carreira expandiu, abraçando editorias diversas, tais quais literatura, TV, cinema, artes, comportamento, viagens, luta de classes. Ganhou prêmios e se tornou um best-seller com alguns dos inúmeros livros que publicou. Por sinal, ao menos três deles saíram no Brasil – Pai e Filho (2002, Sextante), Marido e Mulher (2004, Sextante) e aquele que sem dúvida deve estar na estante do bom jornalista, Disparos do Front da Cultura Pop (2005, Barracuda). Um sujeito com um percurso assim está mais que gabaritado para analisar à quantas andam a cultura pop e o jornalismo cultural. A covid-19 colocou a fatia cultural em xeque. Como visualiza o tal novo normal para o mercado cultural após a pandemia?É difícil para a cultura prosperar quando restrições são impostas ao público. Num sentido bem pragmático, é complicado para os músicos ganhar a vida sem tocar ao vivo – e isso vale tanto para um garoto com uma guitarra quanto para os Rolling Stones. Portanto, precisamos recuperar o público presente – seja para filmes como para música. As implicações de não permitir que seres humanos se misturem são terríveis – mais por razões econômicas e culturais do que por questões de saúde. O vírus atinge a todos. Conheço autores de primeira viagem que estão com livros saindo em meio a lockdown. Mas as livrarias estão fechadas, os festivais de música não estão acontecendo, até entrevistas na TV são feitas remotamente. Então, ou tentamos superar nossos medos e começamos a sair e nos reunir novamente, ou nossa cultura será outra vítima dessa doença. Mesmo antes da covid-19 a vida já não andava fácil para muitos artistas. Internet e tecnologia estão matando gradualmente o jeito como conhecemos a indústria cultural?Tempo e tecnologia estão sempre destruindo indústrias. O que aconteceu este ano é que o processo foi acelerado. Alguém disse que fomos de 2020 a 2030 em dez meses, em vez de dez anos, e acho que isso é verdade! Trabalho como jornalista e romancista, e a indústria jornalística – que sempre foi muito forte no Reino Unido – está sofrendo demais agora. A carreira que fiz seria impossível para um jovem de 22 anos que está começando agora. Os empregos simplesmente não existem! Não há nada de novo nisso. Por exemplo, o ferreiro foi aposentado assim que o primeiro carro apareceu nas ruas. Ninguém mais precisava de ferraduras. E acho que o que relutamos para compreender é que qualquer um de nós pode ser aquele ferreiro. A fofoca é o novo mainstream na cultura pop, em vez da música?A música está marginalizada agora – e francamente os músicos já não são tão interessantes: suas vidas não são tão loucas, os riscos que correm não são tão grandes. O que me surpreendeu na atual cultura de celebridades e de fofoca é o número de pessoas de quem eu nunca tinha ouvido falar! Felizmente, no Reino Unido, temos nossa família real, que é sempre uma fonte inesgotável de fofoca e diversão. O rock não morreu, como tantos dizem. Porém, será que a falta de um circuito forte de rádios rock colocou o estilo na UTI?Diversos fatores combinaram-se na segunda metade do século 20 para originar a vibrante cultura musical que varreu o mundo. Cresci consumindo música no rádio antes de qualquer outro jeito. Não acho que seja a mesma coisa hoje. Os seres humanos sempre se surpreendem porque nada dura para sempre. Mas se você reparar na excelente música feita durante a segunda metade do século 20 verá uma longa linha de tradição: Elvis Presley inspira John Lennon, John Lennon inspira David Bowie, e assim por diante. Porém, essa linha foi rompida agora, possivelmente porque os jovens têm mais distrações e demandas ocupando seu tempo, seus corações. Na minha época, havia música, futebol, e só! Hoje há bem mais opções, embora isso não signifique que haja uma magia por trás. O rádio foi construído com base na velha frase de Chuck Berry: “Tenho que ouvir isso de novo hoje!” [em inglês, “got to hear it again today”, trecho do clássico Roll Over Beethoven]. Mas isso se tornou um jeito ultrapassado de sentir a coisa, hoje em dia. A vida cultural de muitos está basicamente em um smartphone. Isso muda a forma de se consumir música e também de se consumir notícias sobre música. Qual é o maior desafio para um jornalista musical em 2020?O maior desafio para o jornalismo musical é que a tecnologia mudou radicalmente. Havia várias revistas de música no Reino Unido, e apenas uma delas – NME, onde trabalhei – ainda existe, e apenas online. Portanto, a queda vertiginosa do impresso é o maior desafio para a sobrevivência do jornalismo musical. Outro grande desafio é que as matérias não são tão legais. Antes da minha geração, os repórteres do NME acompanharam a jornada dos Beatles e dos Rolling Stones; minha geração cobriu os Sex Pistols e o Clash; a geração seguinte, The Smiths e Stones Roses; depois, Blur e Oasis. A tecnologia mudou e a música, também. Ninguém liga para Ed Sheeran ou Taylor Swift da mesma forma como era com The Smiths ou Oasis. É hora de revistas, sites e jornais sobre música se reinventarem? Às vezes, sinto que a maneira como fazemos jornalismo cultural já está morta.Não dá pra fazer jornalismo cultural da mesma forma por causa do declínio dos veículos de comunicação. O problema com a internet é que os jornalistas não são pagos. No passado, se você encarasse para uma noitada de sexo, drogas e rock and

26/08/2020 / 0 Comentários
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Pit Passarell agora tem dois empregos!

ENTREVISTAS

Pit Passarell é uma figura carismática no rock/metal nacional. Argentino de nascença, fez sua história mesmo na música brasileira, a partir de meados dos anos 1980. Na época, em São Paulo, ajudou a fundar o Viper, com o irmão Yves, além de Felipe Machado e Andre Matos. O grupo tornou-se um dos pioneiros dessa vertente pesada no país. Agora, 35 anos depois, está apresentando singles do que será seu debute solo. O mais recente saiu nesta sexta-feira (21). Seus Olhos é um rock pop honesto, bem feito e cativante. Aliás, essa é a pegada geral do álbum, intitulado Praticamente Nada. O lançamento do trabalho acontece dia 28 deste mês, via Wikimetal (físico/digital). Demorada ou não, a estreia solo tomará a pandemia. Passarell garante que não enrolou no ponto. “O disco foi gravado há muito tempo, em 2005, mas as gravadoras atravessavam uma época de crise”, explica. Antes de Seus Olhos, o público já teve a chance de conhecer O Mundo e Que Seja Eterno o Nosso Amor. Algumas das canções, como O Mundo, têm nomes familiares. Isso porque outros artistas gravaram tais composições – o mais conhecido é o Capital Inicial, que aproveitou diversas das canetadas do roqueiro argentino-brasileiro. “Respeito as versões feitas, mas lógico que as minhas são melhores [risos]”, brinca. Não há uma homenagem a Andre Matos, morto em 2019. “Esse trabalho foi gravado quando ele estava vivo”, diz. Porém, isso não impede uma tirada de chapéu particular: “Quero dedicar um grande abraço e um grande salve ao Andre Matos. De certo modo, se ele não está nesse disco, musicalmente, está dentro de todos nós.” SOLO x VIPER O inevitável emparelhamento entre Praticamente Nada e Viper mostra mais contrastes que semelhanças. Na verdade, o único parentesco fica pelo disco Tem Pra Todo Mundo, de 1996. Se na trajetória da banda aquele trabalho foi como o caroço da azeitona na empada, em seu debute solo, Pit Passarell acertou em cheio. É uma questão de contexto. Em um ambiente novo, próprio e bem diferente, o brilho da afiada veia de compositor ganha polimento. O cara sabe escrever ótimas canções de pop rock. Essa competência só precisa estar ajustada num esquema adequado – neste caso, um disco fora do Viper. De qualquer forma, agora Pit Passarell tem mais uma caminhada para se dedicar. “Que nem o Julius, de Todo Mundo Odeia o Chris“, evoca o seriado da TV. “A Rochelle fala: ‘Meu marido tem dois empregos!’… O Pit tem dois empregos!”, gargalha. E é nesse clima divertido que Pit Passarell se apoia para o lançamento de Praticamente Nada  e o que vier no tal novo normal. “Assim que terminar essa pandemia, tenho certeza que vocês irão adorar o show que faremos!” Fotos: Jo Capusso

21/08/2020 / 0 Comentários
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Zak Starkey: “Tive sorte pela chance de tocar esse tipo de música”

ENTREVISTAS

“É preciso ser forte quando as coisas ficam difíceis”, brada, em nota, o jamaicano Frederick “Toots” Hibbert. Esse músico de 77 anos é um de nossos vínculos com os primórdios do reggae. E na sexta-feira (28) lançou o novo álbum de sua banda, Toots And The Maytals. Got to Be Tough (Trojan Jamaica/BMG) encerra um hiato de nove anos sem um registro de inéditas. Ao tino ímpar pra coisa, Toots contou com instrumentistas gabaritados: Sly Dunbar (bateria/Sly & Robbie), Cyril Neville (percussão), Lisa Davis Palmer (vocais) e Zak Starkey (guitarra). De participações, foram duas mais que especiais: Ziggy Marley, filho de Bob Marley, e Ringo Starr, aquele! Ambos gravaram uma bela releitura de Three Little Birds, sendo que o ex-beatle, um assumido grande fã de reggae, ainda colaborou com Having a Party. Como o ícone jamaicano não pôde nos atender, foi Starkey quem deu a palavra. Ele é cofundador do selo Trojan Jamaica, junto com Sharna “Sshh” Liguz (na foto acima, junto com Zak). Mas o cara carrega outros atributos, entre os quais já ter sido do Oasis e integrar o emblemático The Who. Do ponto de vista da curiosidade, a seu favor também conta o sobrenome. Sim, ele é filho do Ringo Starr. Esse é o primeiro álbum de inéditas da banda em quase uma década. O Toots passou por altos e baixos nos últimos anos. Como transformaram tudo isso nas músicas que ouvimos no álbum?O Toots enviou à Trojan Jamaica 35 canções em versões demo. Sshh e eu escolhemos dez que se combinavam melhor. Fomos à Jamaica e mostramos nossa ideia. Ele aprovou as que escolhemos e o que tínhamos em mente para a pegada do disco, além de título e arte de capa. Passamos cinco dias no estúdio da Trojan Jamaica em Ocho Rios, Jamaica, com Toots, Sly Dunbar e Cyril Neville. Adicionamos guitarra, bateria e percussão – tudo sob a orientação do Toots, que toca todos os demais instrumentos, exceto sopros. Finalizei os overdubs em Los Angeles, enquanto tocava por lá com o Who. Sshh e eu editamos as faixas no Reino Unido. De volta a Los Angeles, Dave Sardy mixou o material, juntamente comigo e Toots supervisionando. O Dave é um amigão. Foi ele quem mixou o disco da Sshh e que produziu os dois álbuns do Oasis em que toco bateria, além do recente Who [2019], do Who. Além destes, produziu o próximo lançamento da Trojan Jamaica, Solid Gold U-Roy. O reggae raiz do Toots tem sempre um toque de outros estilos. O trabalho de guitarra deu uma cor extra, desta vez. Ficaram ótimos os solos da faixa-título. Qual foi sua influência nesse quesito?O Toots toca o primeiro solo em Got to be Tough e eu, o final. Ele é um ótimo guitarrista de blues! As partes de guitarra surgiram, basicamente, de um amplificador com o volume bem alto virado diretamente para mim e o Toots. Ele ia cantarolando ideias para a guitarra e eu ia desenvolvendo rapidão – ele trabalha com agilidade quando está gravando. Em estúdio, o Toots é exigente e bem divertido. Essa atitude é inspiradora para mim, musicalmente – é parecido com o Who. Preparamos três músicas para outras gravações do Toots antes de fazer Got to be Tough, e ele é sempre incrível! Sshh e Toots também fizeram um dueto numa versão ska de Bang a Gong (Get it on), do T.Rex, a qual sairá no próximo ano. A versão de Three Little Birds, de Bob Marley, soa bem legal porque não saiu de um jeito óbvio.Ficou uma ótima versão, realmente, e turbinada pela energia incrível de Sly Dunbar! Toots e Ziggy combinaram suas vozes de maneira brilhante. Aquela ideia do solo de sitar foi algo que gravei em Los Angeles enquanto concluía os overdubs. Usei uma sitar elétrica da Coral. Ziggy Marley parece ser um convidado manjado, mas Ringo Starr? Como ele foi parar no álbum?Meu pai adora música jamaicana! Me apresentou o Man in the Hills, do Burning Spear, quando eu era bem jovem. Concluí os overdubs em Los Angeles, no estúdio dele, que curtiu pacas o disco do Toots. Me falou que Three Little Birds precisava de um pandeiro e que Having a Party, de um cowbell. Meu pai gravou ambas em um take! Got to be Tough [na tradução livre, “Tem que Ser Forte”] sai em um período difícil, por conta da covid-19. A pandemia trouxe um significado especial ao disco?O Toots sempre foi muito cuidadoso em relação à saúde e especialmente à transmissão de doenças. É por isso que inventou o “cumprimento sem fio”, em que você não encosta as mãos. A letra de Got to be Tough refere-se a todas as épocas, mas claro que se tornou particularmente relevante agora. Todos devem ser fortes quando os tempos são difíceis. Qual é sua leitura acerca da música do Toots and the Maytals?Voz, mensagem, significado, atitude, verdade e “riddim” [ritmo, na pronúncia em patoá jamaicano da palavra Inglesa rhythm]. O que é tocar reggae para você?Reggae é um gênero muito disciplinado, musicalmente. Tive sorte por terem me dado a chance de tocar esse tipo de música! Você é filho de Ringo Starr, toca/tocou bateria para nomes como The Who e Oasis, tem um selo de reggae, gravou com o Toots. Quem é o músico Zak Starkey?Música é tudo para um punk de Londres! Foto: Marcos Hermes

20/08/2020 / 0 Comentários
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