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Gary Moore: a fera blueseira da Irlanda

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Como grande fã de Thin Lizzy, tive a alegria de entrevistar todos os guitarristas principais. De Eric Bell a John Sykes, todos. Isso inclui o incrível Gary Moore, dono de um estilo firme, virtuose (sem ser fritador) e de muito feeling. Sua contribuição para a discografia da banda irlandesa foi modesta no volume, porém, fantástica na qualidade. Só para citar algumas músicas, o blues Still in Love with You e Little Darling, dona de um maravilhoso e inspirador solo de guitarra. As duas, de 1974, da primeira passagem de Moore. Já da segunda temporada, posso citar o disco Black Rose (1979) inteiro. É uma obra completa, de alto nível rocker e, para mim, o derradeiro excelente registro do grupo. Fora isso, fez uma ponta aqui e outra acolá, como nos shows de despedida que entraram para o ao vivo Live/Life (1983). Embora não seja Thin Lizzy, também preciso destacar o último ato da irmandade Moore-Lynott. Em 1985, Lynott marcou presença no disco Run for Cover, de Moore, um dos pontos altos do hard rock oitentista. O material foi gravado e lançado meses antes da morte do baixista (janeiro de 1986) e deixou o clássico Out in the Fields. Um brinde final dessa parceria ímpar. Mas Gary Moore era um talento de vida própria. Não cabia em uma banda, além da sua. Mesmo tendo se envolvido com uma série de projetos ao longo da carreira, sua discografia solo detém seu maior tesouro. Embora seja um nome influente no rock, o guitarrista se via como um blueseiro. Dá para compreendê-lo, especialmente se você ouvir seus trabalhos dedicados ao estilo (que vão muito além do hit Still Got the Blues, de 1990). Do blues rock ao raiz, sua veia fervente como guitarrista sempre imprimiu uma marca singular na forma de tocar. Uma genuína assinatura. Mesmo após tantos anos de carreira, a chama mantinha-se acesa. Álbuns como Close as You Get (2007) e Bad for You Baby (2008) nos garantem que sim. Foi para falar deste último que descolei uma entrevista com Gary Moore, em 2009, para a Guitar Player. O resto, quem sabe, eu conto num livro. Imagem: Divulgação

02/07/2022 / 0 Comentários
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Cyndi Lauper para falar de… blues!

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Jamais pensei que um dia entrevistaria a Cyndi Lauper para a Guitar Player. Jamais pensei que entrevistaria a Cyndi Lauper para falar de um disco de blues… dela! Mas o jornalismo musical tem dessas coisas um tanto improváveis. E mesmo quando não estamos indo atrás da pauta, de repente, o acaso vem e nos surpreende com maestria. Tive várias boas surpresas assim. Esta daqui aconteceu em meados de outubro de 2010. Me ofereceram a oportunidade de conversar com a Lauper por dois motivos: a cantora havia lançado o álbum Memphis Blues meses antes e, principalmente, porque traria a respectiva turnê ao Brasil. É lógico que topei. Num primeiro momento, uma figura que é superícone pop dos anos 1980 e o blues raiz parecem universos distantes e distintos. Só que estamos falando de música, e nessa arte tudo é possível. Aí está uma das características de que mais gosto. “Fazia uns oito anos que eu queria gravar esse disco, e por várias razões nunca dava certo”, contou-me ela, na entrevista publicada no site da Guitar Player em outubro de 2010. “Sou fã de blues desde criança. Escutei um disco do gênero pela primeira vez depois de ler em uma matéria que uma das minhas bandas favoritas era fortemente influenciada pelo estilo. Então, saí para comprar álbuns de Muddy Waters, Ma Rainey e Big Mama Thornton, e me apaixonei.” Memphis Blues é um trabalho excelente. Feito com capricho na escolha do repertório (de regravações), nos arranjos e na produção. Se presta à altura como uma respeitosa reverência ao blues old school. Não força a barra. Me impressionou logo que ouvi. Sobre revelar ao mundo seu lado blueseiro, Cyndi Lauper garantiu: “Tentei dar o máximo de mim para me manter fiel ao estilo” – e conseguiu. “Fizemos esse disco à moda antiga: totalmente ao vivo. Ao longo de duas semanas, o material estava basicamente pronto. Gravamos uma canção por dia. Trabalhava os arranjos no início da tarde, ensaiava um pouco com a banda até que todos estivessem satisfeitos e, então, gravávamos algumas vezes. Depois, escolhíamos as melhores versões de cada faixa. Não houve overdubs nem pós-produção demasiada. Tentamos fazer da maneira mais genuína e dar nosso melhor em cada momento.” Se fosse um registro mais enxuto, só ela e sua banda, Memphis Blues já convenceria. Porém, a cantora incluiu cerejas nesse bolo. Refiro-me a convidados como Jonny Lang, Charlie Musselwhite e o maior de todos, B.B. King (para mim, a chancela definitiva do projeto). “Uma vez, encontrei o B.B. King quando estava na escola e pude cumprimentá-lo. Dá pra imaginar que mais de 30 anos depois estaria gravando com ele?! É um gênio! Mal consigo acreditar que trabalhamos juntos!”, empolgou-se. Cantora pop lançando disco de blues? Presta? Bom, se você pensou nesse tipo de coisa, diria para ouvir com o espírito desprevenido de preconceito. Cyndi Lauper mostrou-se ciente do efeito de estranhamento, e até certa apreensão, em relação à ideia de cair na estrada e encarar seu público com algo tão ousado para os padrões limitantes da indústria musical. “Pra ser honesta, estava um pouco tensa em relação ao que meus fãs achariam de eu estar fazendo um show de blues. Tenho alguns dos melhores músicos de blues na estrada comigo. Na maior parte do repertório, tocamos Memphis Blues e na parte final, toco meus sucessos em arranjos blues. Espere só para ouvir Girls Just Want to Have Fun e She Bop nessa roupagem. Ficaram muito legais! Meus fãs têm me acompanhado nessa empreitada. Tenho tido respostas excelentes em todos os lugares.” A turnê deve ter sido motivo de orgulho para a cantora. No Brasil, os shows ocorreram em fevereiro de 2011, com saldo positivo. O pessoal curtiu a vibe “girls just want to have fun with the blues too”. Sim, jamais pensei que entrevistaria a Cyndi Lauper para a Guitar Player, ainda mais para falar de um disco seu de blues. Mas como eu disse: o jornalismo musical tem dessas coisas inusitadas. É por isso que sou apaixonado pelo que faço. A caminhada tem graça porque nunca segue uma trilha linear. Imagem: Reprodução

26/06/2022 / 0 Comentários
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O que Bruce Kulick pensa sobre Revenge

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O último grande álbum do Kiss completou 30 anos em 2022. Pra mim, Revenge jamais envelhece. Continua um puta discão. Todos da banda soavam como em seus melhores momentos. Em 2013, fiz uma entrevista com o Bruce Kulick para a Guitar Player. Sobre o disco, ele comentou: “Em algum momento, Gene e Paul pensaram que talvez [o produtor] Bob Ezrin pudesse ser alguém bom com quem trabalhar. O testamos no single God Gave Rock ‘N’ Roll to You II. Essa canção foi muito boa para a banda, fez parte da trilha do filme Bill & Ted – Dois Loucos no Tempo [1991]. E, então, chamaram Ezrin. Achei que ele mandou muito bem. Foi um desses discos feitos sem compromisso, em que todos deram duro para conseguir o seu melhor. Ezrin é responsável por vários grandes álbuns, não somente do Kiss. Sei que é muito paciente e, se tem um ano para fazer um álbum, vai passar esse um ano trabalhando – provavelmente nós tenhamos levado esse tempo. Realmente, considero Revenge um dos meus álbuns preferidos do Kiss. Houve certa pegada na banda que achei bem poderosa. Me sinto honrado por ter trabalhado com o Ezrin. Aprendi muito com ele.” Imagem: Reprodução

07/06/2022 / 0 Comentários
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Ritchie Blackmore descreve Jimi Hendrix

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A única vez que tive contato com Ritchie Blackmore foi em 2010, quando consegui este depoimento para uma matéria especialíssima sobre Jimi Hendrix que fiz para a Guitar Player: “Hendrix surgiu em 1966, e estava provavelmente 20 anos à frente de seu tempo. O que o torna um gênio é o seu fraseado e sua originalidade; sua construção de canções, seus riffs bastante inovadores, como os de Purple Haze e Manic Depression; sua presença no palco. Mas, por incrível que pareça, uma das coisas que eu acho que o tornaram tão especial foi a sua voz, sendo que ele nunca quis ser um vocalista. Nunca me canso de escutar os instrumentos de Crosstown Traffic. Acho que ele está tocando oitavas ao piano e também na guitarra, o que dá um som muito estranho. Já o solo de Stone Free é excepcional! Ele afinava sempre sua guitarra meio-tom abaixo, o que o ajudava a ter um vibrato bem forte, já que as cordas ficavam mais frouxas”. Imagem: Reprodução

29/04/2022 / 0 Comentários
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Hélcio Aguirra: lembrando o alquimista do som

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Um dos melhores guitarristas e conhecedores de timbre que o Brasil já viu faria 63 anos hoje. Hélcio Aguirra foi um verdadeiro alquimista do som. Era um dos pilares do Golpe de Estado, banda emblemática do rock nacional. Mas também deixou bons trabalhos em paralelo, como com seu projeto instrumental Mobilis Stabilis. Era um sujeito calma, de ar sereno, e bastante simpático. Tive a honra de entrevistá-lo em algumas ocasiões, para a Guitar Player. Em 2006, batemos um papo por conta do lançamento do disco Extra Corpore, segundo do Mobilis Stabilis. Aqui, Aguirra deu uma dica de sua mão pro negócio: “Em meu trabalho no Mobilis, tento estender ao máximo os limites entre o som limpo e o sujo, adicionando a isso os efeitos de onda, delay e ambientes. E faço do meu equipamento um conjunto artesanal em cada detalhe. Desde a escolha dos pickups, da guitarra certa, de alguns pedais e amplificadores que eu construo, até chegar nas caixas e nos alto-falantes.” No final, perguntei qual era sua guitarra favorita. Lógico que não tinha uma só, mas o Aguirra escolheu sua famosa Gibson SG de 1964 (“quase toda original”), e ainda contou a curiosa história de como a conseguiu. “No final dos anos 1970, fui assistir a um show no Palmeiras, de uma banda chamada Zona Franca, que como base do repertório tocava AC/DC. O guitarrista, que também cantava, era o Beto Cruz (conhecido anos depois por integrar a banda Chave do Sol). Ele usava essa SG, que se transformou no meu objeto de desejo desde aquele dia. Uns tempos depois conheci o Beto pessoalmente no seu bar, o Rainbow Bar, e ele estava justamente colocando aquela guitarra à venda para financiar uma viagem aos Estados Unidos. Eu tinha pouco mais da metade do valor. O Beto disse que aceitava que eu pagasse o restante depois dessa viagem. Apesar da tentação, me senti mal em aceitar aquela proposta, porque queria pagar à vista – mesmo correndo o risco de perder a oportunidade. Fiquei sem a guitarra. Tempos depois, o Marcus Rampazzo, um dos maiores colecionadores de instrumentos que conheço, me ofereceu uma SG com escudo alto e outras tantas características – como eu procurava. Quando cheguei na casa dele para ver a guitarra, quem encontro: aquela mesma SG, e ainda com os machucados da pintura caprichosamente restaurados pelo Marcão. Dessa vez, eu tinha a grana para pagar.” *Agradecimento especialíssimo ao Edu Guimarães, pela bela foto do mestre!

03/04/2022 / 0 Comentários
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The Number of the Beast: o pacto do Maiden com o sucesso

MATÉRIAS

“Woe to you, oh earth and sea, for the Devil sends the beast with wrath, because he knows the time is short…”, diz a voz grave e sinistra do ator inglês Barry Clayton. A primeira vez que ouvi ao vivo a introdução de The Number of the Beast foi em 1996. Até hoje me lembro daquela sensação arrepiante, que se repetiu das outras vezes que vi um show do Iron Maiden. Terceiro disco de estúdio deles, The Number of the Beast (1982) mudou muita coisa no heavy metal e na cultura jovem dos anos 1980. Intensificou toda uma mística em torno da coisa do 666, das ilustrações de Derek Riggs e o mascote Eddie. A arte de capa eraum parque de diversões sem fim. Por tudo isso e um pouco mais, o grupo chegou a ser apontado como satanista. “Quando comprei o disco, fiquei com um medo desgraçado”, lembra Andreas Kisser. “Deixava o disco no fundo da última gaveta do meu armário. Tinha medo da capa, da temática satânica. Mas aos poucos fui ouvindo mais e mais…” Como muitos na época, o guitarrista do Sepultura conheceu o Iron Maiden pelo clipe (horroroso, por sinal) de Run to the Hills, single de estreia do trabalho. “Fiquei impressionado com o Steve Harris. Foi a primeira vez que vi ele tocando daquele jeito. Foi realmente impactante.” Quem também se impressionou com o baixista inglês foi Luís Mariutti (Shaman, ex-Angra). “Depois do The Number of the Beast, manifestei o desejo de ser baixista. Eu já ouvia Rush, Black Sabbath, Motörhead, e todos esses baixistas me chamavam a atenção. Mas com as linhas desse disco, a coisa aflorou em mim. Um ano e meio depois meu pai me dava de presente um baixo azul, por causa do baixo do Steve Harris (claro que não era um Fender).” O Iron Maiden definiu sua receita musical em The Number of the Beast. A produção foi de Martin Birch, um ás no ofício e que muito se encaixou à essência da banda. Era a estreia de Bruce Dickinson, vocalista potente que abriu um vasto campo de possibilidades às composições. “Pra mim, um gênio do metal”, define Kisser. “Gosto muito do Paul Di’Anno, mas o Dickinson vai mais além. É um cara fantástico, e já mostrou as possibilidades que tinha ali, principalmente em Run to the Hills. O vocal dele nessa é absurdo!” O contraste por causa do vocal fez muitos se espantarem, e aí está o ponto de partida para a guinada do Maiden, comercialmente. “Eu tinha 11 anos e estava em uma festa. Um amigo que havia comprado o vinil colocou pra tocar”, conta Mariutti. “Quando ouvi aquilo, falei: “Caralho!!!”. Uma mudança significativa de vocalistas. Foi o começo da grande fase do Iron Maiden.” Apesar desse contraste, Steve Harris (baixo), Dave Murray e Adrian Smith (guitarras) e Clive Burr (bateria) também mostraram uma evolução quase tátil. Se Invaders e Ganglad ainda lembravam a era Killers, as demais derivavam por direções diversas e mais trabalhadas. “Esse disco apresentou novidades importantes que fizeram a banda soar diferente”, diz Luiz Sacoman (Cavalo Vapor, Plexiheads). “Não só pela entrada do Bruce, com um vocal mais ‘elástico’ e humorado, mas fundamentalmente pela participação do Adrian Smith nas composições – no Killers, foram praticamente todas do Steve Harris. O Adrian é meu guitarrista predileto do Iron Maiden, com solos de frases bem divididas e com um toque de Michael Schenker.” A parede sonora do Maiden ganhou, sim, corpo. Murray e Smith consagraram ali uma das melhores dobradinhas da música pesada. Andreas Kisser considera a faixa The Number of the Beast um dos maiores clássicos do metal. “Foi um dos primeiros riffs que aprendi, ensinado pelo meu amigo Silas Fernandes. A partir dali evoluí bastante em tirar música de ouvido. Hallowed Be Thy Name é completa de guitarra. Tem tudo ali! Representa muito bem algumas das características mais importantes do heavy metal: o riff e o solo. Tem um instrumental fantástico!” Luís Mariutti, lógico, vê pela ótica de sua área. “O estilo do Steve Harris de tocar me influenciou muito – por exemplo, o fim da música Time, do primeiro disco do Angra, Angels Cry. Ou então o próximo disco do Shaman (Rescue), em que a música de abertura traz uma linha na onda de Prisoner. Esse disco do Iron Maiden, pelas linhas de baixo serem supercompletas, me influencia até hoje.” Quatro décadas após sair, The Number of the Beast segue ignorando o tempo. O álbum que projetou o Iron Maiden mundialmente desenhou novas vias no heavy metal. Caminhos estes que continuam a trilhar gerações de bandas. Não parece um álbum que saiu ontem, mas dificilmente enferrujará. Sua força mantém-se imtacta e o vozerão da introdução da faixa-título, ainda é de arrepiar… “… Let him who hath understanding reckon the number of the beast, for it is a human number, its number is six hundred and sixty-six.” Imagem: Reprodução

02/04/2022 / 0 Comentários
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Foo Fighters: o choque pela morte de Taylor Hawkins

OPINIÃO

O sucesso de Jagged Little Pill parecia não ter fim. Eram meados dos anos 1990. De um single bem-recebido (You Oughta Know) à exposição constante que enfileirou outros hits, clipes, entrevistas e uma megaturnê mundial. Alanis Morissette havia conquistado um espaço de prestígio na música pop. Foi desse barulho todo que conheci a imagem do Taylor Hawkins. A banda que a cantora canadense montou para promover seu estrondoso disco não poderia ter sido mais adequada: era competente e tinha um entrosamento que transpirava carisma. Hawkins tinha um astral que muito combinava com a energia de Morissette. Não passava batido. E quando Dave Grohl se viu sem um baterista para o Foo Fighters, em 1997, não teve dúvida em recrutá-lo. Na verdade, inicialmente, o ex-Nirvana havia dado um alô ao chapa em busca de uma indicação. Porém, acabou sendo surpreendido por sua autoindicação: “Conhece alguém?”, “Sim, conheço: eu mesmo!” Negócio fechado. A confirmação de que a coisa funcionou bem veio na forma de discos potentes: The Colour and the Shape (1997), There Is Nothing Left to Lose (1999), One by One (2002) e In Your Honor (2005). Os álbuns seguintes não foram lá um colar de pérolas, mas têm suas qualidades. O Foo Fighters atravessou os anos 2000 e 2010 no lombo do legado dourado construído em sua primeira década de existência. Destaco Wasting Light (2011), Sonic Highways (2014), pela densidade saborosa e a ausência daquela coisa de somos-a-banda-do-momento. Têm uma seiva criativa muito interessante. A parceria Grohl/Hawkins já era uma irmandade. Eles serviam como o yin-yang da banda. Os estilos de tocar, ainda que não fossem idênticos (e jamais seriam), partilhavam semelhanças: no estilo das pancadas, algumas viradas, o trabalho com o set de pratos. Eles se conectavam pela energia que produziam com uma bateria. Medicine at Midnight (2021) veio com um verniz atualizado. Mantém a essência do Foo Fighters e confirma que o quinteto realmente não quis se sentar sobre a própria história. Em fevereiro agora, saiu a comédia de horror Studio 666. No filme, os caras vão gravar um álbum em uma mansão mal-assombrada. Eis que Grohl acaba possuído por um espírito demoníaco, e seus chapas de banda vão sendo mortos, um a um. O Foo Fighters era a atração de encerramento do último dia do Lollapalooza Brasil 2022, domingo agora. Na noite de sexta-feira (25/03), porém, veio a triste notícia da morte de Taylor Hawkins. O baterista e vocalista tinha 50 anos. Foi encontrado sem vida em um hotel na Colômbia, onde a banda tocaria. Abaixo, parte do show do Foo Fighters no Lollapalooza Argentina 2022. Era o momento da performance em que Grohl e Hawkins trocavam de posição e rolavam uns covers de Queen. Imagem: Reprodução

26/03/2022 / 0 Comentários
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Cachorro Grande se reúne hoje e só, garante Marcelo Gross

ENTREVISTAS

Em novembro do ano passado, um ex-roadie da Cachorro Grande entrou em contato com Marcelo Gross e Beto Bruno. Era o Marcio Sujeira, com um convite: que a banda voltasse a se reunir especialmente para celebrar o aniversário de Porto Alegre. Dali em diante se desenhou o show que ocorrerá no próximo dia 26, no Auditório Araújo Vianna. Os caras não tocam juntos desde 2019. Para os órfãos do quinteto e do bom rock and roll deles, a formação será a clássica: Beto (vocal), Gross (guitarra, vocal), Gabriel Azambuja (bateria), Pedro Pelotas (piano, teclado) e Rodolfo Krieger (baixo). Se a data será única ou haverá outras, só os próximos dias dirão. Por ora, vamos ver o que Gross contou sobre o projeto. OK, aniversário de Porto Alegre. Ótimo! Mas, vamos lá, por que a Cachorro Grande concordou em se reunir?Depois desse tempo separados, da pandemia, sentimos vontade de resgatar aquela velha de energia que tínhamos. A banda tem uma química que só acontece quando estamos juntos. Então, quando pintou esse convite da Opinião Produtora, achamos que era a hora certa. Para as pessoas que gostam da banda, e para nós, será um momento especial. Esse, acho que foi o motivo principal. Também vai ter bastante gente que nunca assistiu a Cachorro Grande e que terá a oportunidade de nos ver tocando ao vivo uma vez. O quanto o atual momento de suas carreiras solo pesou na hora de topar reunir a Cachorro Grande?Como é só um show, acabei nem pensando muito a respeito. Lancei um disco no ano passado [Tempo Louco], estou fazendo shows direto. Então, acho que fazer só uma apresentação com a banda não vai ajudar nem atrapalhar. Não faz muita diferença. O que pretendem incluir no repertório pra deixar o público surpreso?Vamos tocar canções que são os maiores sucessos da banda, os clássicos, claro, e talvez tenha uma ou outra coisa que não tocávamos mais, como Vai T.Q. Dá, que tem um improviso no meio, ou a música que abre o segundo disco, As Coisas Que Eu Quero Lhe Falar. Não vai ter tantas surpresas, porque o repertório é meio que óbvio. Ele meio que se fez sozinho [risos]. E não cogitam incluir uma inédita, seja composta em 2022, seja alguma que nunca gravaram? Poderia ser o single da reunião…Como será só um show, não cogitamos. E também, estou envolvido com minha carreira solo, preparando mais um disco, mais um single. O Beto também imagino que esteja nessa função. Não falamos sobre isso. Estamos preocupados em fazer esse show dar certo e ser bacana. Apesar de cada um estar cuidando da própria carreira, não dá a expectativa de que a banda possa retomar a estrada de alguma maneira?Retomar a carreira, não – até dadas as condições para shows no Brasil hoje em dia. A coisa não é mais como na década passada ou na retrasada. Mas nada impede de, em algum momento, nos reunirmos novamente para uma ou outra apresentação. Isso, não descartamos. Porém, retomar a Cachorro Grande é algo que provavelmente não aconteça, também pelo fato de já termos feito bastante coisa juntos durante 20 anos, pelo fato de ainda ser recente o fim da banda, e por estarmos envolvidos com nossas carreiras solo. Depois desse tempo divulgando o show de Porto Alegre, não teve nenhuma proposta para shows em outras cidades, tipo São Paulo?Ah, sim! Tivemos algumas propostas. Estamos estudando. Vamos ver como será Porto Alegre e depois pensamos. Mas a ideia é que seja apenas esse show mesmo. Foto: Divulgação/Arquivo Marcelo Gross

26/03/2022 / 0 Comentários
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Gentle Savage: doces e perigosos, gentis e selvagens

ENTREVISTAS

O Gentle Savage é uma novidade animadora vinda da Finlândia. Faz um rock robusto, direto, com passagens fotogênicas. Ao mesmo tempo, dá para perceber influências longe do que seria a praia óbvia deles. O quinteto é formado por Jay B (bateria), Vance Bead (baixo), Tim O’Shore (guitarra), Theo van Boom (teclado) e Tornado Bearstone (vocal e guitarra). Midnight Waylay, seu disco de estreia, veio com tudo. Saiu em 2021 e recentemente ganhou a versão streaming. Confira o clipe de uma das faixas, Personal Hades, ao final da entrevista. O papo que bati foi com Tornado, um cara experiente, gente boa e que mostrou qualidade como produtor (a álbum ficou sob seus cuidados). Ele é o boa-pinta de chapéu aí, da foto. Midnight Waylay soa como uma trilha sonora para os dois últimos anos no mundo em que vivemos. Você considera Gentle Savage uma banda otimista ou realista?Acho o Gentle Savage, por um lado, uma banda otimista e por outro, uma banda bem realista. Isso significa que aceitamos a vida em todas as suas cores. Estamos próximos do ideal ingênuo de paz e amor, mas também do lado em que as pessoas vivem na miséria, lutando para sobreviver dia a dia. Se tiver que optar por somente uma definição, essa seria a de realista. Quanto Hades, tratado na música Personal Hades, e a pandemia têm em comum?Hades poderia ser visto como uma metáfora para a pandemia, já que é o submundo, e o Rei de Hades, é o Deus dos Mortos. Em Personal Hades, Hades se refere ao estado de espírito que temos quando parece não haver mais saída em uma determinada situação e só há trevas por todos os lados. O álbum seria diferente se vocês tivessem composto as músicas agora, depois dos ataques da Rússia e toda a guerra de merda que eles estão causando na Ucrânia?Acho que não seria muito diferente. Provavelmente, uma música sobre guerra seria incluída no repertório. Na verdade, há uma música assim já composta. Vamos ver se entra no próximo álbum… Faixas como Personal Hades, Livin’ It Up e Carry the Fire mostram a pluralidade de Midnight Waylay. Você consegue visualizar uma identidade da banda?Ah, caramba, isso é complicado! Nossas músicas são bastante variadas. Somos dinâmicos e orgânicos, doces e perigosos, gentis e selvagens. Você fez um ótimo trabalho com a produção. O resultado me lembra produtores como Mikael Nord Andersson e Andy Sneap. Qual foi a sua ideia para o som do álbum?Obrigado! A ideia foi, antes de tudo, aproveitar ao máximo os instrumentos do estúdio para que soassem reais e vivos. Sem muito processamento, no início. Depois de gravarmos os vocais, cada música ficou com uma característica própria. Então, demos ao nosso engenheiro de mixagem, Jesse Vainio, umas orientações sobre a paisagem sonora. Falávamos: “Essa faixa precisa de bastante ‘perigo’” ou “essa precisa ser clara como o céu até a parte B”, e assim por diante. Jesse tem opiniões de artista. Não é só o “cara que mixa” as músicas. Raramente conversávamos sobre frequências, delays ou outras coisas de estúdio. Durante o processo de mixagem, ele foi como um sexto membro da banda. Rolou bem fácil, na verdade. Entendemos as ideias um do outro perfeitamente. Geralmente fazíamos de duas a três rodadas de audição para cada faixa, antes da mixagem final e da masterização. Por que ouço algo do pop rock dos anos 1980 em algumas músicas do Gentle Savage?Bem, eu escutava todos os tipos de música enquanto ia construindo meu DNA musical. Então, acho que tem a ver com essa quantidade absorvida de uma grande variedade de estilos. Isso fez as músicas saírem do jeito que saíram. Não consigo ver outra razão. Você já encontrou alguém que tenha se surpreendido pelo fato de o Gentle Savage não ser uma banda de metal gótico ou de metal sinfônico?[Risos] Boa pergunta! Encontrei: você! Bem, se quiséssemos ter sucesso muito rápido, definitivamente, deveríamos ter ido na direção do gótico ou metal sinfônico. Mas não é a nossa. Somos uma banda de rock fazendo o que queremos fazer, e isso significa estarmos em algum ponto entre o rock, o hard rock e o heavy rock – talvez até com um pouco de metal. Vi em sua página do Facebook o curioso “aquecimento vocal estilo finlandês”. Acho que você teria problemas vocais no Brasil, já que o clima aqui é exatamente o oposto da Finlândia.[gargalha] Outra boa pergunta! Hum… Na verdade, meus amigos brasileiros da ForMusic prometeram alugar um ônibus de turnê que tenha uma banheira de gelo para mim. Então, não terei problema. Foto: Divulgação

18/03/2022 / 0 Comentários
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O tesouro esquecido de Rick Ferreira

ENTREVISTAS

Entre um valioso souvenir para os fãs mais hardcore e uma ilha inexplorada por muita gente, Porta das Maravilhas permanece conservado. O único disco solo completo de Rick Ferreira guarda preciosidades que não se abalaram com o tempo. Nos permite até uma metáfora com seu título, já que o repertório está repleto de belas melodias, solos inspirados, poesia e uma sonoridade ímpar. Só maravilhas! A história do álbum começou em 1975, quando a música Retalhos e Remendos entrou na trilha sonora da novela Cuca Legal (TV Globo). Aproveitando a visibilidade, a gravadora Philips/Phonogram apostou num compacto com essa mesma canção e Meu Filho, Meu Filho, compostas por Rick junto com Paulo Coelho. Àquela altura, o guitarrista carioca já era um companheiro firme de Raul Seixas nos trabalhos em estúdio. Isso somado ao hit moderado de Retalhos e Remendos jogou uma faísca de ascensão no ar. Porém, a coisa logo esfriou, e a gravadora perdeu a empolgação. Ali começava o difícil percurso do que viria a ser o disco de Rick Ferreira. O material saiu depois de tensas conversas. Esse ambiente minou decisivamente as projeções para Porta das Maravilhas. Sem fôlego suficiente, o registro não durou mais que sua tímida campanha de divulgação. Uma pena, já que se trata de uma obra realmente boa. Inclui uma releitura de Cachorro Urubu que deixou Raul Seixas completamente boquiaberto, além de uma canção de Belchior. Há, ainda, as participações de gente de peso: Túlio Mourão, Chiquinho do Acordeon, Liminha, Grupo Karma, Antonio Quintela e Solange. Além destes, as gravações contaram com dois caras afiados: Áureo de Souza (bateria/percussão) e Chico Julien (baixo). Enfim, dá para se considerar um tesouro perdido da música brasileira, produzido e mixado pelo competente Sergio de Carvalho. Quem fala a respeito é o próprio pai da coisa, Rick Ferreira. Mais que um hit moderado, Retalhos e Remendos foi a chave para que sua carreira como um todo tomasse o rumo que tomou, não?Foi um achado na minha vida! Tem muito sentimento. Emociona não só pela musicalidade, mas pela letra. Havia feito com o Paulo Martinelli, um amigo. Conheci o Raul por meio dessa música. No início de 1974, o Sergio de Carvalho mostrou Retalhos e Remendos ao Raul, que falou: “Esse é o som que estou procurando! Leva esse cara lá em casa. A partir de hoje, quero ele na minha vida!”. Então, foi uma música que mudou não só a minha vida, como, acredito, a do Raul também, né? Quando o conheci também conheci o Paulo Coelho. E rolou uma afinidade bem forte com ele. Começamos a conviver e tal. Aí, teve aquele desentendimento entre os dois, por volta de 1975. Quando o Paulo viu que Retalhos e Remendos iria para a novela, colou em mim. Sei lá, talvez estivesse na esperança de que eu me tornasse um novo Raul [risos]. Pode ser que tenha sido isso o que passou por sua cabeça… Eu sei que o Paulo Coelho passou a compor comigo. Pegou essa música e falou: “Pô, Rick, deixa eu dar uma mexida nessa letra. Está muito poética. A letra é ótima, mas vou deixá-la um pouco mais comercial”. Acabou entrando na parceria – o que achei bom, porque o Paulo estava estourado com Gita. Eu ser lançado com uma música em novela, por uma gravadora grande e uma parceria com o Paulo, porra, seria um grande feito. E foi o que aconteceu! Em que momento surge Porta das Maravilhas?O Sérgio de Carvalho mostrou minhas gravações ao Raul Seixas, que me chamou para gravar com ele. Depois, o Guto Graça Mello tomou conhecimento dessas músicas, que já estavam há dois anos na mão do Sérgio. Um dia, o Guto, indo para uma reunião com o Roberto Menescal [diretor artístico da Philips] – eles estavam montando a trilha sonora da novela Cuca Legal –, ouviu essa música e falou que a queria para o tema da atriz Françoise Forton. Acabei sendo contratado pela Philips, lancei um compacto simples, com Retalhos e Remendos, que foi para a novela, e Meu Filho, Meu Filho. O Paulo Coelho fez estas músicas comigo. Surgiu a possibilidade de um LP, mas aí o tempo foi passando, passando, e comecei a não ser mais interessante como artista para a companhia. Porém, quis fazer o disco de qualquer jeito! O Menescal fez de tudo para que eu não gravasse o disco. Tivemos até uns atritos bem chatos. Acabou que impus o que estava no contrato, e saiu o disco. Porta das Maravilhas surgiu dessa forma. Fiz alguma divulgação em rádio e televisão, mais até pra cumprir o protocolo, porque o Menescal, como diretor artístico, não tinha mais interesse em qualquer tipo de investimento na minha carreira como artista. O disco não teve nenhuma repercussão forte na época. Hoje virou uma relíquia, peça colecionador. O que você já tinha de música e o que compôs para o álbum?Tinha algumas composições sem letra. Eu andava muito com o Junior Mendes, do grupo Karma. Compusemos duas músicas juntos, Solitário, que abre o disco, e Carro de Boi. Sempre tive vontade de gravar Cachorro Urubu, do Raul Seixas, mas num arranjo diferente. Também estava envolvido com o Belchior, que me falou: “Pô, Rick, tenho uma balada tão legal que você podia gravar em seu disco…”. Era Todo Sujo de Batom. Ouvi e vi que dava pra fazer um arranjo meio de balada, meio rock pop. Muitas das canções, eu já tinha, e fui atrás de parceiros. Sua versão para Cachorro Urubu deixou o Raul Seixas de cabelo de pé?Sempre adorei Cachorro Urubu. Pra mim, as duas melhores do Krig-Ha são Cachorro Urubu e Ouro de Tolo – mais que Metamorfose Ambulante, Al Capone. Em 1973, quando conheci a música, ainda não tocava pedal steel guitar, mas já tinha vontade de ter uma. Encomendei o instrumento logo que me encontrei o Raul. Ele disse: “Já sei até em que música a gente vai usar: S.O.S.”. Isso foi no primeiro dia em que o conheci, na casa dele. Engraçado porque, na primeira vez que escutei Cachorro Urubu – acredite se quiser –, me veio à cabeça o arranjo que está no meu disco. Eu tinha usado pedal steel em S.O.S., mas algo simples. Quando o Raul ouviu o arranjo de Cachorro Urubu, pirou! Falou: “Cara, esse é o arranjo

04/03/2021 / 0 Comentários
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Julico: “A música tem o poder de conversar com você”

ENTREVISTAS

Nem sempre a rotina de uma banda permite que seus integrantes consigam se dedicar a trabalhos paralelos. Porém, a pandemia, que praticamente paralisou o mundo, acabou criando possibilidades nesse sentido. Julio Andrade, guitarrista e vocalista do Baggios, viu nisso a deixa pra preparar seu primeiro disco solo. Previsto para sair em outubro, Ikê Maré já teve dois singles divulgados: Nuvens Negras e, o mais recente, Eu São/Curtis Says. Por essas amostras, dá para arriscar com certa dose de segurança que o debute solo desse competente músico sergipano, aqui batizado de Julico, despontará entre os destaques de 2020. O que te levou a gravar um disco solo?A vontade de começar algo do zero, de diminuir cobranças em relação à qualidade, repercussão e a uma linha de som já usada na Baggios. Fugir um pouco da rotina. E também por ter músicas que não cabem na banda. Muitas vezes, rola de compor coisas que não vejo tão dentro do conceito da banda. Por mais que seja superplural, há uma essência na Baggios. Fiquei pelo menos dois anos matutando se teria tempo para esse projeto. Calhou que o mundo todo parou, diminuímos o ritmo de trabalho e achei espaço para realizar esse desejo. Exploro um lado meu mais da música brasileira dos anos 1970, dentro do universo da música negra (soul, funk, samba-rock). Tudo o que remete a esse tipo de som está em Ikê Maré. É um trampo mais segmentado. Qual é o Julico que escutamos no álbum, tanto o artista quanto o homem?O artista e o cidadão são as mesmas pessoas. Como artista, tenho uma exigência, uma direção a seguir. Quando vejo a necessidade de escrever um álbum é porque há uma história que quero contar. Há um conceito por trás de cada letra. O álbum todo tem uma conexão. Em Ikê Maré, o fio condutor é o tempo, suas virtudes, seus ensinamentos. Queria simbolizá-lo por uma entidade nova que não se comprometesse com nenhum segmento religioso – por mais que tenha um pé no orubá. É um disco que trata muito da natureza, mas dos rios principalmente. Nas 12 músicas do álbum você encontrará bastante referência às águas e a esse ambiente das marés, do mangue. Algo com que cresci convivendo. Também é um trabalho que vê a necessidade de falar por uma veia mais sociopolítica. Nuvens Negras foi superdirecionada nesse caminho: é um grito de revolta em relação às queimadas e ao destrato do atual governo quanto à preservação da Mata Atlântica. O repertório tem uma textura bem crua e cativante.Gravei 90% do disco em minha casa, com tempo suficiente para experimentações. Depois de quase 20 anos me relacionando com a música de uma maneira bem séria, profissional, quis essa leveza. Então, tem esse ar, essa vibe mais crua, sem aquela megaprodução. Em fevereiro, gravei a bateria na beira de um rio, no município em que nasci, São Cristóvão. Foi muito simbólico para mim. Um amigo ia fazer um trabalho e disse que poderia gravar. Foi foda! Voltei para casa com a bateria e alguns baixos registrados, e mandei ver só nas vozes, violão e guitarras. Ikê Maré tem bastante guitarra, mas não de forma protagonista, como é na Baggios. Aparece mais em texturas e bases. Em algumas músicas até aparecem uns riffs, que é minha essência do blues e do rock. A melodia sai mais fácil quando se mexe em assuntos delicados?Percebo que quando estou mais sensível, buscando fazer algo mais melodioso, tendem a sair coisas mais bonitas. Quando se atravessa uma situação delicada, você também está bem sensível, e consegue extrair algo que normalmente não conseguiria. Porém, Ikê Maré tem momentos mais solares. Então, dá para tirar coisas bonitas de um momento difícil, mas também dá para fazer músicas lindas estando em um clima de alegria, de satisfação. Isso já rolou diversas vezes. Foto: Victor Balde

04/09/2020 / 0 Comentários
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Clássico ao vivo do Viper: “Tocar no Japão era um sonho”

ENTREVISTAS

O Viper estava a milhão e no auge. A banda paulista, um dos pilares do metal brasileiro, havia reconstruído sua imagem depois de Andre Matos ter se mandado para o Angra. Pit Passarell (vocal, baixo), Yves Passarell (guitarra), Felipe Machado (guitarra) e Renato Graccia (bateria) deram um corpo robusto à química que se formou nos primórdios dos anos 1990. Ainda que os conservadores xiitões torçam o nariz para Evolution (1992), marco zero da então nova formação, o álbum tem qualidade e fibra. Além da faixa-título, sagrou Rebel Maniac, um hino da biografia do rock pesado no país.  Acontece que explorar esse registro rende outras passagens de alto nível, como The Shelter, Wasted e The Spreading Soul. Ok, eles meteram a mão no vespeiro ao reler We Will Rock You, do Queen, mas dane-se! Não tira o brilho do material. Brilho esse que os colocou pelo mundo, rodando o Velho Continente e indo à Terra do Sol Nascente. Nenhuma banda de metal brasileira havia tocado no Japão, nem mesmo o já consagrado Sepultura. O ineditismo rendeu Live – Maniacs in Japan, que saiu em 1993. O disco ao vivo do Viper tornou-se um clássico, e ganhou reedição com bônus em 2020, pelo selo Wikimetal. Sobre este pacotão, conversamos com o guitarrista Felipe Machado. Maniacs in Japan retrata o ápice do Viper. Em que aspectos a banda cresceu após a saída do Andre Matos?A banda teve que mudar. Tínhamos um estilo que vinha do Theatre of Fate, muito acostumado ao vocal do Andre. Nós praticamente nos reinventamos. Como o Pit já era vocalista antes de o Andre começar a cantar, e estava acostumado a compor, optamos por mantê-lo como vocalista. Acho que crescemos porque ficamos mais unidos, mais coesos. Nessa época, também perdemos o baterista. O Guilherme Martin saiu, e entrou o Renato Graccia. Então, eu, o Pit e o Yves ficamos mais unidos. Musicalmente, crescemos em termos de energia, de atitude. Éramos bem novos, e ganhamos uma personalidade e uma atitude maior com a saída do Andre. Fomos obrigados a bancar nosso som. To Live Again e Living for the Night funcionaram tão bem com o Pit no vocal que até parecem da formação dos anos 1990. Foi complicado escolher músicas dos dois primeiros álbuns?As duas são do Pit. O repertório do Soldiers of Sunrise e do Theatre of Fate tem diversas músicas compostas pelo Pit. Acabaram soando bem. Ele as adaptou um pouco para seu estilo, e descobriu um jeito de cantar, também – até por ser o compositor. Então, saiu natural criar novos arranjos. Vocês optaram por mudar a sonoridade do Viper por causa do tipo de metal que o Andre foi fazer com o Angra?Não! Na verdade, foi o Andre que levou para o Angra o estilo do Viper. Mudamos porque não tínhamos mais um vocalista melódico e porque estávamos ouvindo outras coisas, outras influências. Também para nos adaptarmos ao alcance vocal do Pit. E queríamos fazer um som diferente. A cada disco, o Viper sempre mudou. Então, nesse sentido, o Andre que quis manter o som do Viper e transferiu para o Angra. O disco tem um quê de pioneirismo, já que marca a inédita ida de uma banda brasileira de metal ao Japão. Que tipo de experiências trouxeram?O show, claro, foi o mais importante, em termos práticos, de conteúdo. Mas foi muito legal, sensacional! Tocar no Japão era um sonho nosso de criança. Ainda éramos uma banda nova: eu estava com 21 anos, o Yves com 22 e o Pit, 23. O Renato, acho, tinha uns 20 anos. A experiência foi conhecer um país muito diferente. Hoje, apesar de o Japão continuar sendo um país muito diferente, o mundo está globalizado. Naquela época, era realmente uma coisa distante da nossa realidade. Com certeza, fez uma enorme diferença o show por lá. O público era bem diferente. Ganhamos bastante experiência na turnê pela Europa – fizemos nossa segunda turnê pela Europa, e de lá seguimos para o Japão. Foi maravilhoso! O público japonês é conhecido pelo fanatismo e consumismo. Que tipo de passagem inusitada tiverem?Ah, muitas! Só o fato de ter fãs nos esperando no aeroporto e depois no hotel, com faixas, foi algo interessante. Sabíamos que o Viper era uma banda conhecida no Japão – já estávamos nas paradas de sucesso e tal. Mas ver isso na prática foi bem diferente do que ouvir falar. E o pessoal realmente conhecia as músicas. Achávamos engraçado, porque eles eram bem respeitosos. Enquanto no Brasil o público já chega, vai abraçando, agita no show, naquele país é mais contido. Só falam com você quando você fala com eles. Mesmo na apresentação, agitavam bastante, cantavam e tal, mas quando acabavam as músicas, esperavam para ver o que iríamos falar. Havia um respeito grande. Achamos isso bastante diferente em relação à Europa e ao Brasil. Maniacs in Japan volta com quatro bônus do mesmo show, certo? A qualidade de áudio deles está bem diferente, inferior, em relação ao disco.Sim, são do mesmo show. A qualidade está inferior, realmente! Para o disco, pegamos a gravação do rolo e mixamos no Brasil. Fizemos uma produção mais cuidadosa do repertório que escolhemos para o CD e o LP. Na época, ainda não existia o digital, então, tínhamos um limite imposto pela parte física do disco. Não tínhamos essa mentalidade de extras nem nada. Os bônus, até chamamos de Bootleg Version, porque são versões bem cruas. A qualidade está bem pior que a do álbum porque não foram mixados. É uma gravação bruta, que veio da mesa de som. Porém, achamos importante colocar no relançamento, primeiro porque era um material inédito e segundo, porque é muito interessante. Você vê, por exemplo, que na introdução de The Spreading Soul o Pit canta o início de Moonlight. Não fazíamos isso em tantos shows, mas fizemos nesse do Japão. Mesmo Prelude to Oblivion, acho que não tinha no disco normal e incluímos. Então, houve uma vontade de manter esse registro histórico. Por isso acrescentamos os bônus. O Viper completou 35 anos com uma carreira irregular, especialmente a partir deste milênio.Não considero uma carreira irregular, não! Considero bastante regular, na qualidade dos discos. Todos os álbuns

01/09/2020 / 0 Comentários
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