Ir para o conteúdo

Chico Buarque e a tal capa do meme

MATÉRIAS

Data precisa, difícil apontar. Acredita-se que tenha sido por volta de 2013 que a capa do disco de estreia de Chico Buarque se transformou em uma das fontes de meme mais conhecidas (e usadas até hoje). A imagem do Chico feliz/Chico sério, aliás, já chegou a ser aproveitada pelo próprio cantor e compositor carioca, duas vezes. Em julho de 2017, pouco após criar seu perfil no Instagram, Chico postou a primeira versão: “Não tinha Instagram oficial” (sério)/”Agora tenho” (feliz). E em maio de 2020, ano crítico da pandemia de covid-19, veio a segunda: “Protejam-se!”, dizia a mensagem junto da famosa arte, desta vez editada com máscaras nos dois rostos. Chico Buarque de Hollanda saiu em 1966, pela RGE, iniciando a obra perolada desse futuro medalhão da MPB. O repertório trouxe canções como A Banda, Tem Mais Samba, Ela e Sua Janela e Pedro Pedreiro. Um material completamente autoral e revelador da qualidade da mão do artista como compositor. Memes à parte, o fato é que a capa não agradou ao pai da obra desde o início. Ele falou a respeito em 2020, na série de entrevistas Muito Prazer, Meu Primeiro Disco, do Sesc Pinheiros (São Paulo). O projeto foi idealizado pelo jornalista e escritor Lucas Nobile, que dividia a curadoria com o imperecível Zuza Homem de Mello. Completava o time a jornalista Adriana Couto. Logo na abertura da sabatina, Zuza disse ter estranhado quando ouviu o disco pela primeira vez. Achou que algo estava fora de lugar, se comparado ao que conhecia das apresentações na TV. Perguntou se a parte que coube à gravadora havia deixado a desejar, no que se refere à qualidade do material. Chico concordou, mas dividiu a responsabilidade. “Eu era um artista novo. Não tinha condições de impor… Não me sentia em condições de impor a minha vontade. Na verdade, eu me sentia um pouco um estudante de arquitetura que estava gravando um disco do qual não se falaria 50 anos depois”, explicou, emendando na história da tal imagem. “Em primeiro lugar, meu nome artístico era Chico Buarque. O ‘de Hollanda’ entrou aí por sugestão, ou por imposição, da gravadora. As fotos da capa, disso eu me lembro bem… Eu estava em um estúdio fotográfico e queria tirar uma foto séria. Eu queria me impor como um compositor sério e tal. E eles achavam que eu ficava mais bonito quando sorria. Então, tiramos várias fotos – sorrindo, sério, não sei o quê…” Os cliques, bem como o layout de Chico Buarque de Hollanda, saíram das mãos de Dirceu Côrte-Real. O fotógrafo era irmão dos comunicadores Roberto e Renato Côrte-Real. Seu currículo trazia capas como a do álbum Maysa (1957). De acordo com o compositor carioca à mesma série, o resultado final não teve pitaco seu na decisão. “Eu fui ver a capa pronta. Então, eles fizeram a vontade deles e a minha [risos]. Ficou essa capa absurda, que virou meme. E, cada vez que vejo – mesmo sem ser meme –, eu vejo e digo: ‘Que absurdo isso daí’.” Parida com vocação para meme, então? Talvez, se juntarmos esse quê de absurdo com o recorrente apelo bem-humorado despertado na era da internet. É uma forma descontraída de olhar as coisas. Mas, lógico, isso não significa sinal verde de liberou geral. Em 2021, por exemplo, Chico Buarque ganhou ação contra uma empresa que usou indevidamente sua capa como meme para uma campanha. O que fica, no fim das contas, é a fascinante aura de sucesso do disco que se perpetua mais de meio século depois do lançamento. Artista: Chico BuarqueDisco: Chico Buarque de HollandaProdução: Manoel BarenbeinDireção artística: Júlio NagibFotos e layout: Dirceu Côrte-RealGravadora: RGEAno: 1966 Imagem: Reprodução

18/02/2023 / 0 Comentários
leia mais

O disco que salvou o Kiss da crise de identidade

MATÉRIAS

Creatures of the Night foi um renascimento necessário para o Kiss. Depois de três anos derrapando, a banda precisava se reafirmar artística e comercialmente. E não adiantava ser um disco qualquer. Àquela altura, precisava ser algo mais do que bom. O ano de 1982 foi chave. Pouco após a tentativa tortuosa com as inéditas incluídas na coletânea Killers, veio o tsunami. O quarteto deu a volta por cima com um trabalho robusto, incisivo e preciso. Suas melhores qualidades? Músicas de alto quilate e um som incrível de bateria. Ainda incluo aí a capa: para mim, a mais bonita da discografia deles. A história do 10º álbum de estúdio do Kiss guarda passagens memoráveis e outras nem tanto. Algo esperado para um rito de passagem como o tal. O certo é que eles souberam se superar. O resto ficou para o tempo, que nos mostrou se tratar de uma verdadeira obra-prima. Em 2022, quando Creatures of the Night completou 40 anos, saiu uma suculenta edição deluxe. Um parquinho de diversões completas e o ticket perfeito para uma matéria como esta. Foto: Divulgação Tapa na cara “Com Creatures of the Night, achávamos que tínhamos que voltar a ser o Kiss, mesmo que um Kiss mais pesado”, comentou Gene Simmons em uma entrevista que fiz para a revista Bass Player, em 2012. “Havíamos ficado mais pop, mais dance e outros tipos de música com Unmasked e Dynasty. Queríamos, portanto, provar a nós mesmos que éramos capazes de fazer um disco puro e mais pesado do Kiss.” Desde 1979, com Dynasty, a popularidade da banda sofria abalos, principalmente nos Estados Unidos. Unmasked (1980) teve um desempenho aquém o suficiente para sequer haver turnê em seu país natal. “Achei a capa horrível”, disparou Paul Stanley na entrevista que fizemos em 2015. “Há canções muito boas no álbum, mas achei que o som e a produção cortaram sua força. Aquelas músicas haviam sido feitas com guitarra pulsante, e acabaram soando bem levinhas, motivo pelo qual fiquei desapontado. Nesse disco, nos perdemos de nós mesmos. Nem tínhamos um baterista! Peter [Criss] fazia os shows, mas nunca estava no estúdio conosco.” Por sinal, Unmasked foi o último registro oficial de Peter Criss no Kiss, mesmo sem ter gravado nem um assovio. Seu substituto, Eric Carr, trouxe energia nova e uma pegada mais pesada, inspirada em John Bonham (Led Zeppelin). Porém, a estreia fonográfica pouco valorizou isso. Refiro-me a Music from “The Elder” (1981), um sonoro tiro n’água. “O problema com The Elder foi que estávamos perdidos e não sabíamos mais quem éramos”, resumiu-me Stanley, em 2015. “Queríamos impressionar as pessoas que não gostavam de nós, e criamos algo que não era verdadeiro em relação à banda. Não é de se surpreender que as pessoas a quem queríamos impressionar odiaram o disco, assim como a maioria dos que gostavam do Kiss, pois não soou genuíno.” Apesar da ressalva, o guitarrista vê algo de positivo: “O que o álbum trouxe de bom foi um semancol. Foi como se levássemos um tapa na cara ou um balde de água fria, do tipo: ‘O que vocês estão fazendo? Por que abandonaram o que amavam? Por que fizeram isso?’ Não haveria Creatures of the Night sem The Elder. Creatures of the Night fomos nós nos dando conta, repentinamente: ‘Espere aí! É por isto daqui que amamos o que fazemos!’ Enfim, tudo resulta do que vem antes.” Favorzinho do Ace Os perrengues não acabaram em The Elder. Ace Frehley iniciou 1982 decidido a sair do Kiss. Parou de mostrar novas canções e sumiu de vista. “Não tinha mais interesse em continuar na banda”, explicou em sua autobiografia (No Regrets, de 2011). Não faltou quem tentasse convencê-lo do contrário. “Ele queria deixar a banda e começar uma carreira solo, pois, segundo o que me disse, seu disco solo venderia 10 milhões de cópias. Tenho certeza que estava chapado”, disse-me Gene Simmons em 2012. “Nós, então, lhe sugerimos que ficasse na banda, que não precisava sair. Ele disse: ‘Não, eu tenho que sair. Tenho que gravar um disco solo’. E eu falei: ‘Mas você pode fazer seu disco, ter uma carreira solo e, ainda assim, continuar na banda. Nós não queremos nada de sua carreira solo’. Mas Ace insistiu: ‘Não! Tenho que fazer isso do meu jeito’. ‘Ok, faça como quiser!’” Frehley garante que foram várias as razões para querer sair. “É difícil apontar um problema específico”, comentou em sua autobiografia. “Cada coisa alimentava outra: as drogas, a bebida, a banda, meu casamento.” O guitarrista queria se distanciar. “Eles não aprovavam meu estilo de vida, e eu não concordava com o que estavam fazendo com a banda.” E assim foi, só que com condições. Para sair, segundo Paul Stanley no livreto da edição deluxe de Creatures of the Night, Ace Frehley teria que aparecer nas capas dos lançamentos daquele ano e participar de alguns compromissos, inclusive do clipe de I Love It Loud. O guitarrista, por sua vez, minimizou, dizendo que fez um favor para ajudar na promoção. “Meu rosto está na capa porque vendo discos”, arrematou, também à edição deluxe. Fantasmas no estúdio As gravações esticaram-se de julho a setembro de 1982, em Los Angeles. Michael James Jackson dividiu a produção com Paul Stanley e Gene Simmons. Sem Ace Frehley, a saída foi apostar em algo já usual nos últimos discos da banda: convidados. Uma variedade de guitarristas e baixistas “fantasmas” marcou presença. Fantasmas, porque não saíam nos créditos: Steve Farris, Adam Mitchell, Mike Porcaro, Jimmy Haslip, e até Robben Ford, que registrou o solo de I Still Love You e todas as guitarras em Rock and Roll Hell. Para alguém conhecido pela veia blues-jazzística, causa certo espanto ouvi-lo em um álbum como Creatures of the Night. Em 2013, fiz uma entrevista com Ford e aproveitei para tirar isso a limpo. “O cara que produzia esse disco [Michael James Jackson] estava trabalhando comigo numas demos para um álbum meu que nunca saiu”, explicou. “Falou de mim para a banda, porque eles estavam procurando um novo guitarrista. Na verdade, fui chamado só para tocar. Não acredito que tenham me cogitado para a vaga [risos] – de qualquer jeito, eu não toparia.” Se considerarmos as inéditas

30/12/2022 / 0 Comentários
leia mais

Black Sabbath: Born Again (1983)

MATÉRIAS

A capa de Born Again é icônica o suficiente para representar o espírito de ame ou odeie que muito permeia esse disco. Lançado em 1983, o registro trouxe a inédita, e nunca mais repetida, versão da banda com Ian Gillan nos vocais. Não por acaso, houve quem os chamasse de Black Purple, uma alusão à fusão Black Sabbath/Deep Purple. O referido espírito se dá pelo fato de ter uma parcela de fãs que não aprovou o projeto. E até hoje escutamos coisas como “Ian Gillan perdeu a potência de sua voz gravando esse disco…”. mas tudo isso é coisa de quem se apega demais aos ídolos. Em geral, Born Again tornou-se um álbum cultuado, de alguma maneira especial. O aspecto que ainda causa discussão é sua capa. Essa, sim, mantém a chama do ame ou odeie bem acesa. Se há os que acham de extremo mau gosto, há quem curta. Sinceramente, a primeira vez que vi, achei pertinente com a imagem da banda e o título do registro. Mas entendo quem deteste. Essa arte saiu das mãos de um cara chamado Steve ‘Krusher’ Joule. Na época, um designer da revista Kerrang! que já havia feito outros trabalhos para bandas. Um deles saiu no ano anterior a Born Again. Foi para Speak of the Devil, disco ao vivo dele mesmo, Ozzy Osbourne, o vocalista original do Black Sabbath. Krusher apresentou quatro ideias “toscas”, como contou o jornalista e autor britânico Mick Wall em seu livro Black Sabbath – A Biografia (Globo Livros, 2014). Uma delas foi a do polêmico bebê demônio, desenvolvida em cima de uma foto que saiu em 1968, na capa da revista Mind Alive – mesma foto que estamparia o compacto New Live/Shout! (1981), do Depeche Mode (ainda que sugira uma cópia de ideia, não foi esse o caso). Não se tratou exatamente de algo braçal, exigente. O artista usou fotocópias em preto e branco da imagem para acrescentar garras, chifre e olhos diabólicos no resultado, superexposto. “Usei a combinação de cores mais horrível que o ácido poderia comprar, distorci um pouco a fonte Old English e me sentei, balançando a cabeça e rindo”, explicou o designer a Wall. Mais tarde, na reunião para apresentar a arte, estavam somente o guitarrista Toni Iommi, que aprovou, e o baixista Geezer Butler, que achou uma merda, mas concordou. Em uma entrevista ao fanzine Southern Cross, dedicado à banda, o baterista Bill Ward disse não ter tido qualquer participação na capa de Born Again. “Quando eu vi aquilo, odiei.” Quem também expressou total aversão ao tal bebê demônio foi Ian Gillan. Mais enfático que Ward, o vocalista, que já havia se desapontado com a mixagem das gravações, disse ter vomitado assim que viu a capa. Aliás, ficou tão puto que teria destruído todas as 20 cópias do álbum que recebeu. Antes de falar da repercussão da arte de Krusher, em geral ruim, vamos a um ponto importante. O empresário do Black Sabbath em 1983 ainda era Don Arden (desde 1974), pai de Sharon Arden, com quem já não se dava bem. Sua filha era a empresária de Ozzy, com quem havia se casado em 1982 e se tornado Sharon Osbourne. Existia tensão e rixa entre os lados. Para termos uma noção da temperatura das coisas naqueles tempos, Ozzy escreveu em sua autobiografia Eu Sou Ozzy (Binvirá, 2009): “Don podia ter pensado que eu era um vegetal, mas do momento em que Sharon comprou meu contrato, ele nunca parou de tentar recuperá-lo – geralmente, por meio de tentativas de foder meu casamento. Ele podia ser bem desonesto quando queria”. O designer contou a Mick Wall que a ideia para a capa de Born Again era empreitar uma espécie de vingança de Don. Ele queria porque queria transformar o Black Sabbath na “melhor banda de heavy metal do mundo”. Dos planos fazia parte pinçar profissionais que trabalhavam no staff de Ozzy, daí a escolha do próprio Steve ‘Krusher’ Joule. Ou seja, a coincidência ia além de uma curiosa constatação. “Como não queria perder o trabalho com os Osbourne, achei que a melhor coisa a fazer seria colocar alguns desenhos ridículos e óbvios no papel, apresentá-los e depois tomar umas cervejas com a taxa de rejeição”, disse Joule. De alguma forma, o tiro do artista saiu pela culatra. Sua postura desleixada para a criação do bebê demônio não surtiu efeito. A capa foi aprovada, e ainda lhe ofereceram quase o dobro do que recebeu pela arte de Speak of the Devil. O pacote contratado incluía a contracapa e o encarte. Ele topou. Tony Iommi relata em sua autobiografia Iron Man: Minha Jornada pelo Céu e pelo Inferno com o Black Sabbath (Belas-Letras, 2021) que Don Arden resolveu levar a capa ao cenário do palco, para a turnê. Ele chamou um anão, mandou fazer uma fantasia que reproduzisse o bebê demônio e apresentou ao guitarrista e Ian Gillan. A proposta chegou a ser colocada em prática e trazia certo quê hollywoodiano. O anão era um dos atores que davam vida aos Ewoks, de Star Wars. Porém, logo no começo, as coisas deram errado, o ator se acidentou, e a intenção do bebê demônio nos shows foi abortada. De volta à capa, costuma aparecer nas listas de piores já feitas em votações de diversos veículos desde que saiu. História que segue. Banda: Black SabbathDisco: Born AgainProdução: Black Sabbath e Robin BlackArte de capa: Steve ‘Krusher’ JouleGravadora: Vertigo Records/Universal MusicAno: 1983

30/11/2022 / 0 Comentários
leia mais

Kiss: Unmasked (1980)

MATÉRIAS

A virada dos anos 1970 para os 1980 foi um tanto confusa, artisticamente falando, para o Kiss. A banda soava perdida a cada lançamento. Em 1980, saiu Unmasked, com um repertório bom, porém, sem o mesmo vigor rocker de antes. Paul Stanley cultiva certas frustrações em relação a esse trabalho, o oitavo de estúdio do quarteto norte-americano. Uma delas diz respeito à arte de capa, assinada por Victor Stabin. “Eu achei a capa horrível!”, disparou o guitarrista e vocalista. “Desde o início, disse ao Gene [Simmons] e ao cara que estava envolvido conosco: ‘Quero deixar claro que essa capa está horrível e que isso está errado, chamar algo de desmascarado [tradução livre para ‘unmasked’] quando, na verdade, não é’. Aquela história em quadrinhos não era algo genuíno, não parecia verdadeiro. Há canções muito boas no álbum, mas achei que o som e a produção estragaram, cortaram sua força. Aquelas músicas foram feitas na guitarra pulsante, mas acabaram soando bem levinhas, motivo pelo qual fiquei desapontado. Embora o Vini [Poncia, produtor e coautor de diversas faixas] fosse um grande amigo meu, penso que não tenha sido o certo para a banda – ainda que tenhamos feito grandes coisas juntos antes, como I Was Made for Lovin’ You e outras mais. Nesse disco, nos perdemos. Nem tínhamos um baterista! O Peter [Criss] fazia os shows, mas nunca estava no estúdio conosco.” Banda: KissDisco: UnmaskedProdução: Vini PonciaArte de capa: Victor StabinGravadora: Casablanca/Universal MusicAno: 1980

25/11/2022 / 1 Comentário
leia mais

Fla Mingo: “Foi pela arte que consegui me libertar”

ENTREVISTAS

Esse álbum é espetacular, em todos os sentidos. Tem um repertório criativo, inspirado, que envolve. São sete faixas que passeiam por sonoridades variadas do rock. Esquina é visual, performático, exatamente como a persona dessa figuraça chamada Fla Mingo. Cantor e compositor paraibano, Fla Mingo é um genuíno artista. Com as cores e a garra de quem respira sua paixão e sem a vaidade chata de rede social. Lançado pela emblemática Baratos Afins, o trabalho é resultado de seu entrosamento afiado com a banda – Pedro Lauletta (bateria, backing vocais), Pedro Zanchetta (guitarra solo), Alexandre Lopes (guitarra) e Rafael Plaza (baixo). Também têm sua contribuição no resultado a designer Dayane Bonfim, a fotógrafa Natalia Guissoni e o técnico de som Caio Zé, que ajudou a costurar tudo durante a fase mais crítica da pandemia. Esquina soa plural. Nada como o nascer de um projeto em que há muita paixão embutida, certo?Exatamente! A ideia era lançar antes da pandemia. Vínhamos preparando as músicas desde 2017. Durante a gravação das vozes, aconteceu a covid-19. Tudo parou, a vida parou, o mundo parou. Tivemos que deixar o material no congelador. Aí, pela internet, começamos a mixar o material, sempre orientando pelo Caio Zé. Meu último lançamento, eu ainda estava em João Pessoa, saiu em 2008. Esquina tem releituras, músicas mais antigas, mas é tudo com roupagem nova. E tem duas inéditas, da nova safra – Homem do Espaço e Pensar é Perigoso. Fizemos com muito carinho, detalhado. Realmente, é muita paixão envolvida. Algo que amamos fazer. Amamos o palco, mas produzir também é muito gostoso. Estar dentro do estúdio, pegando nossos ingredientes e fazendo aquela receita maravilhosa que resultou nesse trabalho, que está sendo muito bem recebido. Parte de nossas vidas está nesse disco. Você fala para alguém, especificamente?Não há um público específico. Nosso público é exatamente o que se faz naquele momento. Em minhas músicas, há referências de bolero, Jovem Guarda – que eu amo –, das cantoras de rádio. Nosso público é muito diversificado. As pessoas vão aos nossos shows, se identificam e, quando você olha, estão dançando, curtindo, acenando pra gente, batendo palmas. Isso que é legal! A diversidade existe no nosso trabalho, na nossa arte. Não há fronteiras. Gostou do som? Venha dançar com a gente, curtir nosso som, e vamos fazer desse momento único. Faça do seu momento único quando estiver ouvindo, se transporte. Dê-se ao luxo de transcender. É isso que é a Fla Mingo! Você se considera uma pessoa resiliente?Me considero, sim. E acho que, mais do que nunca, hoje em dia temos que ser. A vida não é feita só de beleza. É feita de atropelos, quedas, pedras no caminho, e o mais legal durante essa jornada é se superar. Não se sentir coitadinho. É levantar a cabeça e seguir em frente. Você está aqui, neste mundo, então, tem que fazer algo. E é exatamente durante essa jornada que a vida merece ser vivida, que temos de dar a cara a tapas para sermos realmente seres humanos. E procurar nossos ideais. Gostei das letras. Descontrole é um falso aviso de que o disco possa ser deprê, mas pega outra direção.Eu tenho essa coisa de soar um pouco deprê. Mas, não. A vida é feita disso, entendeu? De amores encontrados, amores não encontrados, portas que se abrem, portas que se fecham, portas que nunca abrem e você tem que abrir, procurar outro caminho através de uma janela. Você sempre encontra seu caminho e aquele raiozinho de sol que precisa para se reerguer e seguir em frente. Descontrole fala um pouco disso. Homem do Espaço é uma viagem divertida.É minha homenagem ao David Bowie. Tem um pouco dessa coisa de que você transcende. É como se eu tivesse tido uma visita do Bowie no meu quarto em João Pessoa. Ele chega e batemos um papo sobre livros, literatura, arte. Pega meus discos e me ensina: “É assim que se requebra”. A Super-Tra, o que quer dizer esse título?“Super-Tra” significa super-travesti. Ou pode ser super-trans, que está em alta hoje em dia – não por moda, mas por uma galera, lá atrás, vir ralando bastante por direitos – independentemente de sexo, ideologia, cor. São pessoas lutando por seus direitos. Tento falar disso de maneira suave nessa música. Quero dizer que não é algo que você tenha que manter escondido, sabe? Quebrar tabus, quebrar paradigmas. Chega, somos todos iguais! E é isso o que também levamos como lema para a banda. Meu visual, minha postura como artista, o que escrevo, meu respeito para com o próximo. Isso já é levantar uma bandeira. “Super-tra” é uma expressão que eu usava em João Pessoa com meus amigos gays. Quando nos encontrávamos, principalmente na loja de discos em que eu trabalhava, fazíamos uma brincadeirinha, em 2004, 2005. Temos que respeitar o gênero de cada pessoa, o que ela quer ser, o que escolher ser. É isso que temos que respeitar. Então, A Super-Tra é super-travesti, essa figura emblemática que representa toda uma geração. E a luta continua. E Pensar é Perigoso, uma bela faixa.De cunho político e social, tem referências a 1984, de George Orwell, e O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon – amo muito esse livro. E trata de causas que estão super em voga, também: ecologia e Amazônia. O que representa se expressar pela arte?A arte representa tudo para mim. É meu alimento da alma, do corpo, do coração, da mente. Representa minha vida. Foi pela arte que consegui me libertar. A arte liberta, né? Parece clichê, mas não é. A arte realmente liberta. Se não fosse a arte, provavelmente, não estaria vivo. Foi com a música que consegui colocar para fora todos os meus fantasmas, sabe? Tudo que estava engasgado, que não conseguia falar, que queria expressar e não podia, muitas vezes, por ser reprimido até mesmo pela sociedade. Sou eternamente grato à arte por ter me salvado e por continuar me salvando. Por fazer de mim um meio de comunicação para outras pessoas de maneira consciente. A arte é… putz, é o ar que eu respiro! Quanta honra sair pela Baratos Afins, não?Nossa, maravilha ter

14/11/2022 / 0 Comentários
leia mais

Uma Banda Chamada Z – O Babaca

OPINIÃO

Quando sabemos que o vinho presta, sacamos a rolha com a certeza de que beberemos bem. No caso da tal Uma Banda Chamada Z (o nome é ótimo), em vez de etílica, a convicção é sonora. E vamos falar sério, né? Uma banda com estes caras daqui – Renato Panda, Xando Zupo, Ricardo Alpendre e Ivan Scartezini – jamais produziria algo fuleiro. O quarteto surgiu da iniciativa do grande Xando Zupo, guitarrista chapa-quente e que tive o prazer de entrevistar ao longo dos anos. Com pegada crunch saborosa e uma abordagem clássica/hard rock firme, certamente é uma referência. Digo sem pestanejar que ele ajudou a tornar a cena paulistana nessa adega sempre abastecida de ótimos vinhos roqueiros. A banda chamada Z, por ora, é a banda de um single só. Recentemente saiu seu single de estreia, ‘O Babaca’. Tem sido uma das faixas que mais venho ouvindo nas últimas semanas. O som tá incrível! Tem uma levada magistral que se divide em partes distintas, tornando o arranjo magnético. Você nem percebe que são mais de 7 minutos (e o clipe é maneiríssimo). Mas não dá pra elogiar o som sem tirar o chapéu à voz carismática do Ricardo Alpendre e à levada robusta do baixista Renato Panda. Deixei o Ivan Scartezini por último porque ele é o responsável por um dos elementos que mais me fazem voltar a ouvir ‘O Babaca’ inúmeras vezes. Sua batida pesada e o timbre da batera me fazem evocar John Bonham (calma, tietes histéricas radicais! É uma impressão respeitosa minha, e tenho certeza de que o Bonham se sentiria lisonjeado). Não pude deixar de falar sobre esse som, uma música realmente à altura de hit moderno do rock nacional. Hoje em dia, os clássicos, somos nós mesmos que definimos. E essa faixa da Uma Banda Chamada Z já é um dos clássicos que elegi para 2022. Tô aproveitando hoje pra lavar a alma. E adivinhe! Já no meio de uma garrafa de vinho bom. Foto: Grace Lagôa

11/10/2022 / 0 Comentários
leia mais

Sepultura: Schizophrenia (1987)

MATÉRIAS

Schizophrenia, de 1987, é o segundo disco de estúdio do Sepultura, último pela Cogumelo Records. Também marcou a entrada do guitarrista Andreas Kisser e, assim, o nascimento da formação que se consagraria mundo afora, com Max Cavalera (vocal, guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Igor Cavalera (bateria). O quarteto andava com moral alta em sua gravadora, tanto que a Cogumelo deu liberdade total para a definição da parte gráfica – desde a tipografia à escolha das fotos. Dessa maneira, puderam direcionar a arte que ilustraria a capa, feita por Ibsen. Ele é irmão de Pat Pereira, dona do selo junto com o marido, João Eduardo. Max Cavalera conta em sua autobiografia, My Bloody Roots (Agir, 2013), que a banda queria “um espelho quebrado e um sujeito numa camisa de força”. A intenção, naturalmente, era linkar a arte com o conceito do título, Schizophrenia, surgido depois de um aceno do passado. “Alguém tinha me dito, muito tempo antes, que eu era esquizofrênico – embora não estivesse falando sério”, escreve o guitarrista e vocalista. “Aquilo me veio do nada, enquanto tentava encontrar um título para o álbum. Pensei: ‘Esse nome é maneiro, vamos criar um conceito a partir dele’.” Em 2017, Andreas Kisser me contou em uma entrevista que o resultado final não os convenceu de imediato. Entretanto, por questão de prazo apertado, a arte foi mantida. “Não tivemos muito como mudar”, contou. “Ficamos meio descontentes na época, mas acabou se tornando uma capa icônica, original e diferente. Representou, e representa, bem o que é aquele disco: é esquizofrenia, é atirando para todo lado, é um pré-caos de música, letra e visual.” Não se pode negar a particularidade do azul claro predominante. De discreto, não tem nada. Destoa da praxe carregada do death/thrash metal, repleta de preto, vermelho e tons escuros. Com Schizophrenia, o grupo fugiu do óbvio. E ainda que as pinceladas sejam quase naïf, a arte, em geral, virou uma marca do álbum.  “Nós estávamos um pouco à frente do tempo, saindo daquela coisa do preto, do logo que ninguém sabe decifrar”, arrematou Andreas Kisser em 2017, ocasião em que o disco ganhou relançamento especial em vinil. “Mostramos cor e possibilidades diferentes para o thrash metal. Então, tenho muito orgulho dessa capa.” Banda: SepulturaDisco: SchizophreniaProdução: Sepultura e Tarso SenraArte: IbsenGravadora: Cogumelo RecordsAno: 1987 Imagem: Reprodução

18/09/2022 / 0 Comentários
leia mais

Raul Seixas e Marcelo Nova: A Panela do Diabo (1989)

MATÉRIAS

O que você faria se tivesse a oportunidade de encontrar deus, o seu deus? O fotógrafo Dimitri Lee teve essa chance em 1989. Foi um misto de encantamento e choque embalado pela missão de clicar a capa de A Panela do Diabo – registro que eternizou a parceria entre Raul Seixas e Marcelo Nova. Dimitri era devoto ferrenho de Raul desde 1974, quando ouviu Gita, ainda adolescente. “Acho que fui a mais shows do Raul do que ele mesmo, porque em vários, ele faltou [risos].” Tamanha admiração explica o baque no dia em que se deparou com o ídolo no estúdio Vice-Versa (São Paulo), bem diferente do que seu imaginário construiu. “Cheguei cheio de equipamentos e encontrei o Raul. Encontrei Deus! E Deus estava com o cérebro completamente destruído…”, recorda-se. “Falei: ‘Raul, eu faço a capa que você quiser. Me conta’. Ele começou a falar umas coisas que eu não sabia como fazer: umas peças de xadrez voando, com uns tridentes… Aí, o Marcelo Nova viu meu olhar de desespero, me deu um abraço e: ‘Dimitri, faça uma capa boa pra gente. É só isso que queremos’. Lógico que eu estava triste. O Raul estava ‘pastel’.” Além de dar vida à capa, o fotógrafo conseguiu acompanhar as gravações. Aquele trabalho tinha tanta importância para ele que até a tratativa com a gravadora foi atípica: “Se alguém der orçamento zero, eu pago. Então, não tenho orçamento”, propôs. Simples assim, job fechado. “Queria muito encontrar aquele cara que me formou quando eu tinha 12 anos. Queria muito fazer aquela foto. Muito, por tudo! Óbvio que a WEA [gravadora, hoje Warner Music] ficou feliz por não ter que pagar nada. Então, pedi como bônus fotografar as gravações.” Ao longo de maio de 1989, sua câmera pegou diversas passagens. A experiência rendeu até mais que isso. “Um dia me chamaram: ‘Precisamos de mais um cara para bater palmas’”, conta. “Não tenho talento, principalmente para ritmo, e me botaram junto com o baixista [Carlos Alberto Calazans] e o baterista [Franklin Paolillo]. Errei todas as palmas.” Apesar da falta de jeito, a mixagem final de Pastor João e a Igreja Invisível manteve Dimitri.  “Essa foi minha participação.” Outro Raul Eis que chegou o grande momento, o da imagem para a capa. As sessões ocorreram no estúdio de Dimitri Lee, cravado no bairro da Bela Vista. Raul Seixas e Marcelo Nova apareceram por lá paramentados e prontos para dar vida à empolgação do fotógrafo. “Raul era extremamente fotogênico. A dificuldade era fotografá-lo de outro jeito. Ele não tem legenda, e a melhor foto é sem legenda. Então, fiz uma porrada de fotos deles, com câmeras que eu amo.” Para dar aquela descontraída, Dimitri resolveu sugerir um sarauzinho divertido. Teve, aliás, o privilégio de pedir ao próprio um dos mais conhecidos clichês da cultura pop nacional: toca Raul! Porém, a sessão acabou embalada mesmo por Elvis Presley. “Meu sonho era cantar Raul com o Raul, mas ele falou que não se lembrava das letras. E eu: ‘Sério? Você é o único brasileiro que não sabe cantar Raul!’. Ele sugeriu: ‘Vamos cantar Elvis?’. Fizemos a sessão inteira cantando Elvis, porque eu também sei. Dá pra cantar.” Foto do jeito que queria, acompanhar as gravações do disco e ainda dar uma pontinha em uma das músicas – o pacote perfeito. Apesar do choque por conta do Raul Seixas que encontrou, Dimitri Lee vivia o êxtase. Na hora de revelar o material até dispensou o suporte de seus assistentes. O momento era seu. “Fiz umas fotos lindas!” Os astros pareciam realmente alinhados, não fosse um detalhe. Detalhe, não. Um deslize, que mudou completamente o rumo das coisas. Sua ideia era usar uma técnica que deixaria as imagens craqueladas. Um procedimento arriscado, pois envolve a manipulação de diferentes temperaturas. E o risco do pior se materializou: “Eu caguei o filme! Estraguei uma porção de fotos. Fiquei muito triste”. Na empolgação, em vez de testar a técnica somente com alguns negativos, usou todos. “Por algum motivo misterioso, errei. Eu nunca errava. Ali eu errei.” Saída de emergência Sem imagens e precisando cumprir o compromisso com a gravadora, Dimitri correu por um plano B. Escolheu o interior do hoje extinto restaurante indiano Govinda, que ficava na zona sul de São Paulo. Agendou nova sessão. Silvia Panella, da coordenação gráfica da WEA, acompanhou os trabalhos com apreensão: “Eu estava muito tensa, muito! Primeiro porque sou fãzona de Raul Seixas e era meu primeiro contato com ele. Depois, havia toda uma expectativa daquilo dar certo”. Mal sabia das fortes emoções que a aguardavam. “Passei na casa dele com a equipe que iria conosco para o restaurante, e o Marcelo nos encontraria lá”, conta. “O Raul estava se tremendo todo. Me pediu para parar numa padaria, e pensei: ‘Bom, quem sabe ele toma um café agora e fica bem’. Ele estava, assim, todo meio esquisito… Paramos numa padaria e ele pediu uma pinga daquelas de copo americano, às 9h da manhã! Falei: agora, danou-se [risos]!” Quando as coisas indicavam que se complicariam, veio o alívio: “O Raul tomou a pinga e ficou ótimo. E aí fez tudo o que pedimos. Foi supertranquilo. Tudo muito rápido”. A foto que estampa A Panela do Diabo tornou-se icônica. E quem vê os dois ali nem desconfia do calor do momento que marcou a sessão. “Eu tinha acendido um fogão na lareira”, explica Dimitri. “O Marcelo saiu, porque estava muito perto do fogo. E dei uma vacilada: vi o Raul suando, vermelho. Perguntei se estava doendo, ele falou ‘tá’. Aí, eu: ‘Putz, desculpe! Pelo amor de Deus, Raul, saia daí. Estou afinando a luz. Vai demorar’.” O retrato da parceria tornou-se uma imagem icônica. O material passou por uma edição simples até sair como conhecemos. Bem, “simples” aos olhos atuais, porque em 1989 o desafio tinha outro peso. “Era tudo muito artesanal, diferente de hoje em dia, que você faz no computador e já vê o resultado na tela”, compara Silvia. “No fotolito, tirava a prova e daí entendia o que estava acontecendo, que efeito tinha dado.

21/08/2022 / 1 Comentário
leia mais

Camisa de Vênus: Correndo o Risco (1986)

MATÉRIAS

O ano de 1986 cravou o auge do Camisa de Vênus clássico. Se em julho saiu Viva, um dos melhores álbuns ao vivo do rock nacional, em novembro veio Correndo o Risco. Os trabalhos marcam a troca de gravadoras, da RGE para a gigante Warner Music, e o acesso a uma estrutura de ponta (estúdio, orçamento). Produzido por Pena Schmidt, Correndo o Risco esbanjou uma sonoridade robusta, cristalina e generosa. O polimento perfeito para um repertório perolado, do qual saíram Simca Chambord, Deus me Dê Grana, Só o Fim, a épica A Ferro e Fogo e a regravação de Ouro de Tolo, de Raul Seixas. Músicas como essas se tornaram hits da banda baiana, algumas até do rock brasileiro. O porte de uma gravadora como a Warner permitiu os cliques nada baratos de ninguém menos que Bob Wolfenson. Mesmo assim, o renomado fotógrafo era um luxo que fugia dos padrões da companhia para a produção de suas capas. Daí se percebe o tamanho do moral que havia em torno do Camisa de Vênus. O conceito para a capa veio de Marcelo Nova. A imagem foi feita em São Paulo e guarda uma curiosidade. “Aquela velha atravessando a rua, sou eu! Pouca gente sabe disso”, conta o vocalista. “A foto foi tirada na avenida Paulista. Estou atravessando fora da faixa de segurança, vem um Simca Chambord na minha direção, e tento pará-lo com uma bengala.” A sessão comandada por Wolfenson contou com um staff completo, incluindo produção de figurino, vestuário, maquiagem e cabeleireiro. Os demais integrantes do grupo baiano também participaram. Não dá para notar, mas eles estão dentro do carro. Coisa fina mesmo. Silvia Panella, coordenadora gráfica da Warner, acompanhava os trabalhos e conta que o clima era de diversão total. “Eu já era fã do Camisa de Vênus. Gostava bastante. A gravadora sempre topou deixar o artista fazer o que tivesse na cabeça. Então, estavam bem à vontade naquilo que queriam. Uma energia gostosa.” A foto escolhida para estampar Correndo o Risco ainda passaria pelas mãos de um designer. E aí está o porém para Marcelo Nova. “A exemplo do que já havia acontecendo com o Batalhões de Estranhos [disco do Camisa de Vênus de 1985), o cara que fez a arte da capa achou que ficaria muito bom pegar a bengala da velha e transformar num negócio parecendo, sei lá, com um cajado de He-Man. Horrível aquilo, horrível! Tirou a sutileza, a simplicidade da capa.” Ressalva à parte, a arte tornou-se emblemática no rock nacional, muito por conta do estrondoso sucesso do álbum. Banda: Camisa de VênusDisco: Correndo o RiscoProdução: Pena SchmidtDireção artística: LiminhaConcepção da capa: Marcelo NovaFotos: Bob WolfensonDireção de arte gráfica: CVSCoordenação gráfica: Silvia PanellaGravadora: Warner Music (WEA)Ano: 1986 Imagem: Reprodução

07/08/2022 / 2 Comentários
leia mais

Lanny Gordin: a caminho da música pura

PORTFÓLIO

Entrevistei Lanny Gordin algumas vezes. Em uma delas, para a revista Guitar Player, me disse algo bonito por si só pela mensagem: “Estou a caminho da música pura, que é um som só, sem nenhum defeito. Não penso em vaidade porque nunca fui vaidoso. Na verdade, nem sei o que é isso. Escuto falar a respeito e pergunto: ‘O que é vaidade?’ Ninguém conseguiu me explicar [risos]”. Em seguida, completou: “Me parece que só quem toca música pura são os anjos. É um ideal atingível, mas trata-se de uma questão de tempo. É preciso tocar bastante até chegar a hora certa – tudo tem a hora certa na vida, não é?” Perguntei quem já havia visto fazendo a música pura. “Ninguém, porque imagino a música pura como outro som, que ouço em um riacho, nas ondas do mar, no vento… Esses sons da natureza”, respondeu. Essa entrevista saiu na matéria de capa especial em que trabalhei, para o número 200 da Guitar Player (2012). Além do Lanny Gordin, conversei com outros cinco guitarristas emblemáticos: Sérgio Dias, Luiz Carlini, Pepeu Gomes, Frejat e Edgard Scandurra. Fizemos uma sessão de fotos para a capa com os seis. Algo histórico. Já a foto que ilustra este post é minha mesmo, registrando os bastidores dos cliques.

22/07/2022 / 0 Comentários
leia mais

Steve Lukather reflete seu trabalho em Thriller

PORTFÓLIO

Em 2009, quando o Michael Jackson bateu suas reluzentes botas, procurei o Steve Lukather para um depoimento. Por que ele? Porque foi um dos coadjuvantes de luxo do álbum Thriller, o maior sucesso do rei do pop e simplesmente o álbum mais vendido de todos os tempos (mais de 30 milhões de cópias vendidas). E foi bem legal, pois ele me deu um depoimento emocionante (e emocionado): “Tenho lembranças muito amistosas. Thriller era para ser ‘O’ disco, já que Michael Jackson vinha do bem-sucedido Off the Wall (1979). Eu trabalhei em algumas canções, das quais provavelmente a mais famosa seja Beat It. Nessa, toquei todas as guitarras base e baixo. Também toquei guitarra base em Human Nature, a qual foi coescrita por nosso tecladista Steve Porcaro (refere-se ao Toto). Eu, Jeff Porcaro e David Paich fizemos um dueto com Paul McCartney em The Girl is Mine, e foi uma grande honra. Essas experiências ficarão comigo para sempre. Estar no maior disco de todos os tempos é algo muito bom. Michael sempre foi muito gentil e profissional comigo e com todo mundo. Sua morte foi certamente muito triste” – Steve Lukather Imagem: Reprodução

12/07/2022 / 0 Comentários
leia mais

Hein? Um beatle tocando Los Hermanos?

PORTFÓLIO

Em 2011, entrevistei o Marcelo Camelo (sim, aquele). A pauta era sobre seu então novo álbum solo, Toque Dela, mas também enfiei uma pergunta sobre a curiosa verão de 2001 para Anna Julia. A releitura foi capitaneada por Jim Capaldi (Traffic) e contou com a participação de George Harrison. Como isso aconteceu? “O Jim Capaldi era casado com uma brasileira e vinha muito ao Brasil. Numa das vindas, ele conheceu Anna Julia, que tocava no rádio sem parar. Ele estava prestes a gravar um disco solo e resolveu gravar a música. Para a gravação, chamou o Ian Paice (bateria, Deep Purple), o Paul Weller (baixo, The Jam) e o Harisson. Não conheci nenhum deles, só o Jim. Levo na memória alguém muito leve e descontraído, um cara forte, de ombro largo, e muito, muito gente fina.” Imagem: Reprodução

10/07/2022 / 0 Comentários
leia mais

Paginação de posts

Anterior 1 … 3 4 5 6 Próximo
Royal Elementor Kit Tema por WP Royal.