Como foi o último ano do guitarrista com a banda que ajudou a transformar numa das maiores do rock brasileiro.
Marcelo Gross coloca a carreira em perspectiva
O recém-lançado disco ao vivo do guitarrista e vocalista gaúcho é o mais novo entre seus projetos de revisita e celebração.
Rosa Tattooada: maior banda gaúcha de hard rock faz 35 anos
O Rosa Tattooada surgiu em 1988 e logo consolidou seu time clássico: Jacques Maciel (guitarra, vocal), Beat Barea (bateria), Paulo Cássio (guitarra) e Eduardo Rod (baixo). Embalado por todo o fuzuê hard rocker oitentista, o quarteto gaúcho rapidamente se tornou sucesso no Rio Grande do Sul. Eles tiveram demo com hit radiofônico, grande projeção, disco lançado por major fonográfica, agenda cheia… O ápice foi abrir os shows do Guns N’ Roses no Brasil, em 1992. Tudo em cerca de quatro anos. Porém, como que do céu ao inferno, despencaram vertiginosamente. Atingiram o fundo do poço em 1995 e então resolveram dissolver a banda. Em 2000, o Rosa Tattooada volta reformado e reformulado, dessa vez como trio. Jacques e Barea contam com o baixista Rodrigo Maciel, irmão do vocalista e guitarrista. Mais adiante incorporaram Vini Tonello, no teclado, e assim avançaram. Vieram discos com punch e qualidade, e novas alterações de layout. O grupo consolidou-se bem. Sua atual encarnação é a mesma desde 2011, com Valdi Dalla Rosa (baixo) e Dalis Trugillo (bateria). Após tantos altos e baixos, no ano em que o Rosa Tattooada celebra 35 anos, as peças parecem devidamente encaixadas. E ninguém melhor para passar essa história a limpo que Jacques Maciel, único presente em todas as formações. Em 2023, você está com 54 anos e é pai pela primeira vez. O que muda?Já venho há alguns anos baixando a poeira do folclore do hard rock, das loucuras e tudo mais. Tenho levado a vida de uma forma mais tranquila. Agora mais ainda. Graças a Deus, nessa retomada pós-pandemia, as coisas estão andando artística e profissionalmente, tanto com meu trampo solo como para o Rosa. O fato de o filho ter vindo depois de todo esse tempo de carreira também ajuda?Deus faz as coisas na hora certa. Ele veio numa hora em que tenho outra cabeça, estou pé-no-chão e mais estruturado financeiramente. Se tivesse pintado quando eu tinha trinta e poucos anos, talvez não fosse tão bom pai quanto tenho me esforçado para ser agora. Você falou de Deus porque é um cara religioso ou foi só forma de falar?Não sigo nenhuma religião, mas acredito em Deus. Acredito que tenha algo além dessa porra toda que estamos vivendo neste planetoide [risos]. Sempre acreditei que deva haver algo por trás disso, não sei se como forma de me confortar. Não estamos aqui até o fim da vida só pelo propósito de estar aqui, na Terra. Então, acredito em Deus, sim. E no que acreditava em 1988, quando montou o Rosa Tattooada?Nas mesmas coisas, cara. Sempre tive esse pensamento, desde moleque. O Rosa foi minha primeira banda. Nossa crença era do folclore do rock, do Kiss, do Mötley Crüe. Quando aparecemos, estava em efervescência o rock farofa, a cena da Sunset Strip, de Los Angeles. Tudo aquilo nos fascinava. Vocês montam o Rosa em 1988 e têm uma ascensão até que meteórica, né?Em 1986, fui trabalhar como roadie para uma banda clássica do Sul, que eram os Cascavelletes. O Rosa nasceu por sugestão do vocal, Flávio Basso, que depois virou o Júpiter Maçã. Ele falou: “Por que vocês não montam uma banda para abrir os shows dos Cascavelletes?”. Essa explosão do Rosa foi graças ao que até hoje é nosso hit mais conhecido, O Inferno Vai Ter Que Esperar. Gravamos esse som em uma demo. O Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós, deu a letra e eu fiz a música. Essa demo simplesmente começou a tocar nas rádios, mesmo antes de termos um disco. Coisa que hoje nem se sonha acontecer. Na época, os caras tocavam porque gostavam da sua música. Era um sucesso espontâneo.É, e não tínhamos pretensão nenhuma. Realmente foi muito rápido. Em 1990, gravamos um disco por um selo local, Rosa Tattooada, produzido pelo Thedy, que o colocou debaixo do braço e levou para mostrar à Sony Music, no Rio. O presidente da gravadora, Marcos Kilzer, curtiu e nos contratou. Só que pediu que regravássemos. Então, em 1991, fomos para o Rio, no estúdio Nas Nuvens, e refizemos o álbum com algumas alterações no repertório. Na realidade, Rosa Tattooada já tinha tocado inteiro nas rádios do Sul. Outro som que também tocou e que é quase tão cultuado quanto O Inferno Vai Ter Que Esperar se chama Tardes de Outono. Como conseguiram abrir para o Guns N’ Roses, em 1992?Quando estávamos regravando o disco, pintou o convite. Eles vieram ao Brasil em sua melhor fase, na turnê do Use Your Illusion. No ápice, né. Aí, teve a história clássica, de que quando o cara veio nos convidar, recusamos. Dessa eu não sabia.Era uma empresa que estava trazendo eles, a DC Set, do Dody Sirena, empresário do Roberto Carlos há muitos anos. A produção do Guns pedia uma banda local de cada país para abrir os shows. A DC enviou o material do Rosa e de mais quatro bandas, Viper, Não Religião, Hay Kay e Inocentes. Um dia, o Dody pintou no Nas Nuvens: “Olha, os caras do Guns escolheram vocês para abrirem os três shows no Brasil”. Não havia aquela cultura de banda nacional abrir show e se dar bem. Hoje há condições de se tocar e não queimar o filme. Na época, não. Quando tinha banda de abertura, era “apedrejada” [risos]. Nesse primeiro momento dissemos que não, porque estávamos lançando um álbum pela Sony e tínhamos receio de fazer uma apresentação sem condições técnicas e assim sermos vaiados. Queimar o filme na largada, como dizemos aqui no Sul. Dois dias depois, ele voltou ao estúdio, pegou uma folha de papel e caneta, e: “Queremos que vocês abram esses shows. Então, escrevam aqui tudo o que precisam para terem segurança”. O que colocamos parecia exigência, mas não é nada demais: equipamentos de qualidade, nosso próprio técnico de P.A. e de monitor e um volume e qualidade decente para o público. No fim, foram três noites incríveis. Saímos aplaudidos de todas elas. É um lance que guardamos com muito carinho. Como foi olhar um público gigantesco de
Cachorro Grande se reúne hoje e só, garante Marcelo Gross
Em novembro do ano passado, um ex-roadie da Cachorro Grande entrou em contato com Marcelo Gross e Beto Bruno. Era o Marcio Sujeira, com um convite: que a banda voltasse a se reunir especialmente para celebrar o aniversário de Porto Alegre. Dali em diante se desenhou o show que ocorrerá no próximo dia 26, no Auditório Araújo Vianna. Os caras não tocam juntos desde 2019. Para os órfãos do quinteto e do bom rock and roll deles, a formação será a clássica: Beto (vocal), Gross (guitarra, vocal), Gabriel Azambuja (bateria), Pedro Pelotas (piano, teclado) e Rodolfo Krieger (baixo). Se a data será única ou haverá outras, só os próximos dias dirão. Por ora, vamos ver o que Gross contou sobre o projeto. OK, aniversário de Porto Alegre. Ótimo! Mas, vamos lá, por que a Cachorro Grande concordou em se reunir?Depois desse tempo separados, da pandemia, sentimos vontade de resgatar aquela velha de energia que tínhamos. A banda tem uma química que só acontece quando estamos juntos. Então, quando pintou esse convite da Opinião Produtora, achamos que era a hora certa. Para as pessoas que gostam da banda, e para nós, será um momento especial. Esse, acho que foi o motivo principal. Também vai ter bastante gente que nunca assistiu a Cachorro Grande e que terá a oportunidade de nos ver tocando ao vivo uma vez. O quanto o atual momento de suas carreiras solo pesou na hora de topar reunir a Cachorro Grande?Como é só um show, acabei nem pensando muito a respeito. Lancei um disco no ano passado [Tempo Louco], estou fazendo shows direto. Então, acho que fazer só uma apresentação com a banda não vai ajudar nem atrapalhar. Não faz muita diferença. O que pretendem incluir no repertório pra deixar o público surpreso?Vamos tocar canções que são os maiores sucessos da banda, os clássicos, claro, e talvez tenha uma ou outra coisa que não tocávamos mais, como Vai T.Q. Dá, que tem um improviso no meio, ou a música que abre o segundo disco, As Coisas Que Eu Quero Lhe Falar. Não vai ter tantas surpresas, porque o repertório é meio que óbvio. Ele meio que se fez sozinho [risos]. E não cogitam incluir uma inédita, seja composta em 2022, seja alguma que nunca gravaram? Poderia ser o single da reunião…Como será só um show, não cogitamos. E também, estou envolvido com minha carreira solo, preparando mais um disco, mais um single. O Beto também imagino que esteja nessa função. Não falamos sobre isso. Estamos preocupados em fazer esse show dar certo e ser bacana. Apesar de cada um estar cuidando da própria carreira, não dá a expectativa de que a banda possa retomar a estrada de alguma maneira?Retomar a carreira, não – até dadas as condições para shows no Brasil hoje em dia. A coisa não é mais como na década passada ou na retrasada. Mas nada impede de, em algum momento, nos reunirmos novamente para uma ou outra apresentação. Isso, não descartamos. Porém, retomar a Cachorro Grande é algo que provavelmente não aconteça, também pelo fato de já termos feito bastante coisa juntos durante 20 anos, pelo fato de ainda ser recente o fim da banda, e por estarmos envolvidos com nossas carreiras solo. Depois desse tempo divulgando o show de Porto Alegre, não teve nenhuma proposta para shows em outras cidades, tipo São Paulo?Ah, sim! Tivemos algumas propostas. Estamos estudando. Vamos ver como será Porto Alegre e depois pensamos. Mas a ideia é que seja apenas esse show mesmo. Foto: Divulgação/Arquivo Marcelo Gross