ARTE DE CAPA

Chico Buarque: Chico Buarque de Hollanda (1966)

Data precisa, difícil apontar. Acredita-se que tenha sido por volta de 2013 que a capa do disco de estreia de Chico Buarque se transformou em uma das fontes de meme mais conhecidas (e usadas até hoje). A imagem do Chico feliz/Chico sério, aliás, já chegou a ser aproveitada pelo próprio cantor e compositor carioca, duas vezes.

Em julho de 2017, pouco após criar seu perfil no Instagram, Chico postou a primeira versão: “Não tinha Instagram oficial” (sério)/”Agora tenho” (feliz). E em maio de 2020, ano crítico da pandemia de covid-19, veio a segunda: “Protejam-se!”, dizia a mensagem junto da famosa arte, desta vez editada com máscaras nos dois rostos.

Chico Buarque de Hollanda saiu em 1966, pela RGE, iniciando a obra perolada desse futuro medalhão da MPB. O repertório trouxe canções como A BandaTem Mais SambaEla e Sua Janela e Pedro Pedreiro. Um material completamente autoral e revelador da qualidade da mão do artista como compositor.

Memes à parte, o fato é que a capa não agradou ao pai da obra desde o início. Ele falou a respeito em 2020, na série de entrevistas Muito Prazer, Meu Primeiro Disco, do Sesc Pinheiros (São Paulo). O projeto foi idealizado pelo jornalista e escritor Lucas Nobile, que dividia a curadoria com o imperecível Zuza Homem de Mello. Completava o time a jornalista Adriana Couto.

Logo na abertura da sabatina, Zuza disse ter estranhado quando ouviu o disco pela primeira vez. Achou que algo estava fora de lugar, se comparado ao que conhecia das apresentações na TV. Perguntou se a parte que coube à gravadora havia deixado a desejar, no que se refere à qualidade do material. Chico concordou, mas dividiu a responsabilidade.

“Eu era um artista novo. Não tinha condições de impor… Não me sentia em condições de impor a minha vontade. Na verdade, eu me sentia um pouco um estudante de arquitetura que estava gravando um disco do qual não se falaria 50 anos depois”, explicou, emendando na história da tal imagem.

“Em primeiro lugar, meu nome artístico era Chico Buarque. O ‘de Hollanda’ entrou aí por sugestão, ou por imposição, da gravadora. As fotos da capa, disso eu me lembro bem… Eu estava em um estúdio fotográfico e queria tirar uma foto séria. Eu queria me impor como um compositor sério e tal. E eles achavam que eu ficava mais bonito quando sorria. Então, tiramos várias fotos – sorrindo, sério, não sei o quê…”

Os cliques, bem como o layout de Chico Buarque de Hollanda, saíram das mãos de Dirceu Côrte-Real. O fotógrafo era irmão dos comunicadores Roberto e Renato Côrte-Real. Seu currículo trazia capas como a do álbum Maysa (1957). De acordo com o compositor carioca à mesma série, o resultado final não teve pitaco seu na decisão.

“Eu fui ver a capa pronta. Então, eles fizeram a vontade deles e a minha [risos]. Ficou essa capa absurda, que virou meme. E, cada vez que vejo – mesmo sem ser meme –, eu vejo e digo: ‘Que absurdo isso daí’.”

Parida com vocação para meme, então? Talvez, se juntarmos esse quê de absurdo com o recorrente apelo bem-humorado despertado na era da internet. É uma forma descontraída de olhar as coisas. Mas, lógico, isso não significa sinal verde de liberou geral. Em 2021, por exemplo, Chico Buarque ganhou ação contra uma empresa que usou indevidamente sua capa como meme para uma campanha. O que fica, no fim das contas, é a fascinante aura de sucesso do disco que se perpetua mais de meio século depois do lançamento.

Artista: Chico Buarque
Disco: Chico Buarque de Hollanda
Produção: Manoel Barenbein
Direção artística: Júlio Nagib
Fotos e layout: Dirceu Côrte-Real
Gravadora: RGE
Ano: 1966

Imagem: Reprodução

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