Camisa de Vênus: correndo o risco com toda a pompa

Reprodução

O ano de 1986 cravou o auge do Camisa de Vênus clássico. Se em julho saiu Viva, um dos melhores álbuns ao vivo do rock nacional, em novembro veio Correndo o Risco. Os trabalhos marcam a troca de gravadoras, da RGE para a gigante Warner Music, e o acesso a uma estrutura de ponta (estúdio, orçamento).

Produzido por Pena Schmidt, Correndo o Risco esbanjou uma sonoridade robusta, cristalina e generosa. O polimento perfeito para um repertório perolado, do qual saíram Simca ChambordDeus me Dê GranaSó o Fim, a épica A Ferro e Fogo e a regravação de Ouro de Tolo, de Raul Seixas. Músicas como essas se tornaram hits da banda baiana, algumas até do rock brasileiro.

O porte de uma gravadora como a Warner permitiu os cliques nada baratos de ninguém menos que Bob Wolfenson. Mesmo assim, o renomado fotógrafo era um luxo que fugia dos padrões da companhia para a produção de suas capas. Daí se percebe o tamanho do moral que havia em torno do Camisa de Vênus.

O conceito para a capa veio de Marcelo Nova. A imagem foi feita em São Paulo e guarda uma curiosidade. “Aquela velha atravessando a rua, sou eu! Pouca gente sabe disso”, conta o vocalista. “A foto foi tirada na avenida Paulista. Estou atravessando fora da faixa de segurança, vem um Simca Chambord na minha direção, e tento pará-lo com uma bengala.”

A sessão comandada por Wolfenson contou com um staff completo, incluindo produção de figurino, vestuário, maquiagem e cabeleireiro. Os demais integrantes do grupo baiano também participaram. Não dá para notar, mas eles estão dentro do carro. Coisa fina mesmo.

Silvia Panella, coordenadora gráfica da Warner, acompanhava os trabalhos e conta que o clima era de diversão total. “Eu já era fã do Camisa de Vênus. Gostava bastante. A gravadora sempre topou deixar o artista fazer o que tivesse na cabeça. Então, estavam bem à vontade naquilo que queriam. Uma energia gostosa.”

A foto escolhida para estampar Correndo o Risco ainda passaria pelas mãos de um designer. E aí está o porém para Marcelo Nova. “A exemplo do que já havia acontecendo com o Batalhões de Estranhos [disco do Camisa de Vênus de 1985), o cara que fez a arte da capa achou que ficaria muito bom pegar a bengala da velha e transformar num negócio parecendo, sei lá, com um cajado de He-Man. Horrível aquilo, horrível! Tirou a sutileza, a simplicidade da capa.”

Ressalva à parte, a arte tornou-se emblemática no rock nacional, muito por conta do estrondoso sucesso do álbum.

Banda: Camisa de Vênus
Disco: 
Correndo o Risco
Produção: Pena Schmidt
Direção artística: Liminha
Concepção da capa: Marcelo Nova
Fotos: Bob Wolfenson
Direção de arte gráfica: CVS
Coordenação gráfica: Silvia Panella
Gravadora: 
Warner Music (WEA)
Ano: 
1986

2 respostas para “Camisa de Vênus: correndo o risco com toda a pompa”

  1. […] disco nas lojas, as coisas se complicaram. O Camisa de Vênus passou a transitar regularmente de Salvador a São Paulo ou ao Rio de Janeiro. Era uma caravana com […]

  2. […] destaca o cuidado. “Não era para ganhar projeção. O Marcelo amava o Raul! O anjo, ali, era o Marcelo Nova. Um puta dum homem de […]

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