MATÉRIAS

Toni Garrido e Ira! no Festival de Cervejas Artesanais de Piracicaba

O Parque do Engenho Central, tradicional ponto turístico de Piracicaba (SP), recebe neste fim de semana o 2º Festival de Cervejas Artesanais de Piracicaba. Além de 12 cervejarias da cidade e região, o público verá shows diversos, sendo os principais os de Toni Garrido (sábado) e Ira! (domingo).

A ideia é estimular a produção artesanal da bebida e divulgar os rótulos disponíveis no mercado. A realização está a cargo da Cevada Pura e Hop Flyers. Participam as cervejarias Escafandrista, Geezer, Green Fish, Mosteiro Cervejaria, Nhô Quim, St. Patricks’s Beer, Sonora, SP 330, Tábuas e Tutta Birra.

Aproveitei que moro em Piracicaba para entrevistar quem comanda cada noite em cima do palco. Toni Garrido mostra o show Baile Free, em que transita da black music à música eletrônica. Movido a desafios, o vocalista do Cidade Negra tem explorado a combinação dessas sonoridades há alguns anos com sua obra solo. E vem se saindo bem, diga-se de passagem.

“Me considero um cantor de soul, até porque reggae é uma das vertentes da soul music”, explica. “Quando me dedico a outro trabalho, não faço reggae. Só faço reggae com o Cidade.”

O repertório incluirá novidades, como o single Vai, divulgado há menos de um ano, e hits do naipe de Pescador de Ilusões e O Erê. Mas Baile Free não se restringe à apresentação. “Um dos motivos pelos quais saio de casa é para também me manifestar como cidadão, e Baile Free tem minha cidadania. É um show preparado para que a ideia do antipreconceito seja gritante”, diz. “Para podermos sentir a música, temos que nos despir dos preconceitos em relação ao outro. O importante é deixar fluir o amor, e amor não pode ter preconceito. Estou usando esse show para dar minha parcela como cidadão na luta contra algo que todos temos que combater, que é o racismo”, finaliza.

Aos que amam rock nacional clássico, o encerramento do Festival de Cervejas Artesanais de Piracicaba terá Ira!. Nasi (vocal) e Edgard Scandurra (guitarra), junto com Evaristo Pádua (bateria) e Johnny Boy (baixo), revisitam as quatro décadas da banda no domingo.

Núcleo Base, O Girassol e Dias de Luta são algumas das músicas que devem compor o setlist. No geral, será um apanhado variado, conforme destaca Nasi. “A gente sempre reveza sucessos com lados-B importantes dentro de nossa musicalidade.”

Essa é a infalível receita que mantém qualquer apresentação interessante para o público e, claro, para os músicos no palco. De qualquer modo, clássico que é clássico jamais cansa. “Cada vez que canto ‘Envelheço na Cidade’ para um público diferente é uma energia diferente.”

O Ira! dispensa floreios. Sua biografia está entre os pilares que sustentam as vigas do rock brasileiro. Uma importância que garante certa blindagem ao percurso em meio às oscilações do mercado.

“É sinal dos tempos. Outros gêneros se sucedem”, opina Nasi sobre o atual desinteresse do mainstream pelo rock. “Acho até bom sair um pouquinho daquela fase ‘música da moda’. O rock tem que ter sempre esse lado subversivo, segmentado. E também faltam novas bandas com boas músicas.”

O vocalista ainda soltou o verbo sobre outro sintoma da modernidade. “O streaming está sendo o grande responsável por essa baixa qualidade na música, não só no Brasil. Paga-se muito mal aos artistas. Muito. Isso é uma vergonha!”

Mas, afinal, e o rock nesse contexto, ainda consegue ser contestador? “Olha, não acho que seja uma música que mude o mundo”, responde. “É o mundo em mudança que estimula os artistas a criarem a trilha sonora para as mudanças. Hoje vivemos um mundo muito careta, reacionário, conservador, alienado, hedonista, individualista. E isso é uma das razões para a trilha sonora que temos, uma música completamente alienada.”

Fotos: Washington Possato (Toni Garrido) e Ana Karina Zaratin (Ira!)