O sucesso de Jagged Little Pill parecia não ter fim. Eram meados dos anos 1990. De um single bem-recebido (You Oughta Know) à exposição constante que enfileirou outros hits, clipes, entrevistas e uma megaturnê mundial. Alanis Morissette havia conquistado um espaço de prestígio na música pop.
Foi desse barulho todo que conheci a imagem do Taylor Hawkins. A banda que a cantora canadense montou para promover seu estrondoso disco não poderia ter sido mais adequada: era competente e tinha um entrosamento que transpirava carisma.
Hawkins tinha um astral que muito combinava com a energia de Morissette. Não passava batido. E quando Dave Grohl se viu sem um baterista para o Foo Fighters, em 1997, não teve dúvida em recrutá-lo. Na verdade, inicialmente, o ex-Nirvana havia dado um alô ao chapa em busca de uma indicação. Porém, acabou sendo surpreendido por sua autoindicação: “Conhece alguém?”, “Sim, conheço: eu mesmo!” Negócio fechado.
A confirmação de que a coisa funcionou bem veio na forma de discos potentes: The Colour and the Shape (1997), There Is Nothing Left to Lose (1999), One by One (2002) e In Your Honor (2005).
Os álbuns seguintes não foram lá um colar de pérolas, mas têm suas qualidades. O Foo Fighters atravessou os anos 2000 e 2010 no lombo do legado dourado construído em sua primeira década de existência. Destaco Wasting Light (2011), Sonic Highways (2014), pela densidade saborosa e a ausência daquela coisa de somos-a-banda-do-momento. Têm uma seiva criativa muito interessante.
A parceria Grohl/Hawkins já era uma irmandade. Eles serviam como o yin-yang da banda. Os estilos de tocar, ainda que não fossem idênticos (e jamais seriam), partilhavam semelhanças: no estilo das pancadas, algumas viradas, o trabalho com o set de pratos. Eles se conectavam pela energia que produziam com uma bateria.
Medicine at Midnight (2021) veio com um verniz atualizado. Mantém a essência do Foo Fighters e confirma que o quinteto realmente não quis se sentar sobre a própria história. Em fevereiro agora, saiu a comédia de horror Studio 666. No filme, os caras vão gravar um álbum em uma mansão mal-assombrada. Eis que Grohl acaba possuído por um espírito demoníaco, e seus chapas de banda vão sendo mortos, um a um.
O Foo Fighters era a atração de encerramento do último dia do Lollapalooza Brasil 2022, domingo agora. Na noite de sexta-feira (25/03), porém, veio a triste notícia da morte de Taylor Hawkins. O baterista e vocalista tinha 50 anos. Foi encontrado sem vida em um hotel na Colômbia, onde a banda tocaria.
Abaixo, parte do show do Foo Fighters no Lollapalooza Argentina 2022. Era o momento da performance em que Grohl e Hawkins trocavam de posição e rolavam uns covers de Queen.
Imagem: Reprodução