Thank You, Goodnight: A História de Bon Jovi não é daqueles documentários manjados de banda famosa. O oba-oba rockstar para tiete divide espaço com algo mais sério. Não é, portanto, o que se espera quando se trata da banda de You Give Love a Bad Name. Por isso, gostei e resolvi escrever esta resenha.
Assisti recentemente à série de episódios disponível no Star+. Posso garantir que, no geral, o material carrega um ar mais tenso que festivo. Poderia ser o contrário, já que celebra os 40 anos do grupo de New Jersey. Porém, a narrativa emparelha a trajetória deles com o drama pessoal de Jon Bon Jovi.
Há alguns anos, o vocalista se deparou com uma desafiadora sinuca de bico. Viu ir embora sua principal ferramenta de trabalho, a voz. Não só ele viu. Qualquer pessoa mais atenta que tenha ido ou visto pela internet os shows do grupo nos últimos anos deve ter reparado. Estava escancarado que a coisa andava osso.
Sendo assim, a ameaça da aposentadoria forçada que se instalou no cotidiano do artista o empurrou numa angustiante luta. O documentário mostra o esforço de Jon Bon Jovi para recuperar ao menos parte do vigor que tinha. Não deve ser fácil batalhar e ainda assim se ouvir como um ganso engasgado. Expor uma fraqueza dessa natureza, e em praça pública, reconheço que é para poucos corajosos.
Goste você ou não do hard farofa anos 1980 ou do pop aguado dos anos 1990 e 2000, o Bon Jovi merece respeito. Esses caras são grandes hitmakers, especialmente quando Richie Sambora estava na banda. Mas até mesmo nos últimos trabalhos, já desgastados pela mesmice, esbarramos por músicas boas.
Como disse, o legal é que Thank You, Goodnight aproxima-se mais da realidade do que da ilusão do mainstream. Ok, vai… a estrutura do documentário, os assuntos, a montagem e os climas têm um porquê marketeiro. Mas o drama justifica. É real.
Perder a voz, para um vocalista, é quase como um guitarrista perder um braço. Jon Bon Jovi e astros do naipe de Axl Rose (Guns N’ Roses) e Paul Stanley (Kiss) caíram nessa indesejada lama, a dos vocalistas que ficaram sem voz. Podem até continuar na estrada, mas estarão sempre aquém do que já foram um dia (e às vezes essa forçada de barra os coloca em situações embaraçosas).
O título do documentário, Thank You, Goodnight, remete à ideia da corda bamba em que Jon Bon Jovi se equilibra. Significa algo como: se os tratamentos não resolverem, então, valeu e boa noite, pessoal! Será o fim de papo para ele.
A série caminha até 2023, quando se completaram as quatro décadas da banda. Também é o ápice da batalha do frontman para reverter a situação. Culmina de forma precisa no que se chama de jornada do herói. É esperar pra ver.
Em junho passado saiu o 16º disco de inéditas do Bon Jovi, Forever. O documentário registra parte dos esforços para que esse trabalho ganhasse a luz do dia. Saiu, e até tem músicas boas. A interpretação de Jon Bon Jovi passa com nota boa, mas vem amparada pelas manhas que um sofisticado estúdio de gravação oferece.
Pra mim, a incógnita ainda persiste.
*Essa foto aí, eu tirei no show do Bon Jovi no Morumbi, em 2010. A banda ainda com Richie Sambora